Chamava-se José Márcio Toledo, conhecido pelo nome de Cordeiro.
Isso desde bem pequenino. A mãe foi a responsável pela mudança do nome do
menino. Ela costumava introduzi-lo nas suas conversas, dizendo:
– É um cordeirinho, meu filho. Não
dá trabalho.
Filho mais obediente que o dela
não poderia haver no mundo, ela garantia. Assim sendo, com o compromisso de não
desapontar a mãe, o menino procurava ao longo dos anos ser exatamente como ela
dizia que ele era: uma criatura de virtudes superiores às dos outros. A calma,
obediência e lealdade de Cordeiro tinham que ser mencionadas sempre. Para a mãe
coruja, o seu cordeirinho não tinha defeitos.
Cordeiro
tornou-se um rapaz cobiçadíssimo pelas jovens solteiras de sua vizinhança. Por
fim, casou com Francismara, filha de seu Francisco e dona Mara. Moça de tipo
bem comum, nenhuma de suas virtudes se aproximava dos padrões de perfeição. Se
a mãe de Cordeiro ainda fosse viva, com certeza não aprovaria essa união.
Francismara
não era baixa, nem alta; não era feia, mas também não ganharia nenhum concurso
de beleza. Não tinha uma inteligência privilegiada, mas também não era modelo
de estupidez. A princípio, trajava-se com modéstia; todavia, depois que
Cordeiro recebeu a herança deixada pelos avós maternos, ela passou a investir
na aparência pessoal. Continuou tudo na mesma, já que, por alguns, ela era
citada como modelo de elegância, enquanto, para outros, não passava de uma
perua, uma pobretona que melhorara de vida e queria impressionar.
Cordeiro
ficou meio surpreso com a mudança; contudo, como aprendera desde pequeno a ser
manso e submisso, não deu nenhuma palavra sobre o assunto. Já que Francismara
estava feliz com seu visual carregado de maquiagem e joias, para que reclamar?
Resolveram
vender os sítios que Cordeiro havia herdado nos arredores da cidade. As terras
eram boas e extensas. Valiam o preço que Cordeiro pedia. A verdade é que,
vender muitas terras em cidadezinha do interior não é tarefa fácil.
Aconselharam
Cordeiro a baixar preço. Ele imediatamente se convenceu de que esse seria o
melhor caminho para resolver esse negócio. Ao comunicar sua decisão a Francismara,
ela não concordou.
– Deixa de
ser tolo, Cordeiro. Não é assim que se faz negócio, homem. Parece que não tem
opinião própria. As pessoas vêm e dizem que isso ou aquilo é melhor, então você
imediatamente acha que é mesmo. Para com isso. Se as terras valem o preço que
você pediu por elas, é só aguardar que alguém vai reconhecer isso e pagar.
– Mas
Francismara, é muito dinheiro. Quem tem essa dinheirama toda não quer investir
em terras, não.
Francismara
bem sabia que o marido estava tão somente repetindo o mesmo discurso que ouvira
de algum colega de trabalho. Agora ia teimar com ela até deixá-la bastante
chateada. Depois ficaria todo sentido pelo fato de ela discutir com ele por
causa dessas pequenas coisas.
– Presta
atenção, Cordeiro, porque eu não quero ficar repetindo a mesma coisa um montão
de vezes até convencer essa sua cabeça dura. Você diz o seu preço e espera que
os interessados façam suas contrapropostas, certo? Então, você vende as terras
para aquele que fizer a proposta mais vantajosa, ou seja, para aquele que mais
se aproximar do que você está pedindo.
Cordeiro
teimou, insistindo que sua ideia era melhor. Aliás, a teimosia era-lhe também
uma característica bem marcante da personalidade. Depois de muita reclamação,
por parte da mulher, resolveu fazer do jeito que ela queria. Não porque
estivesse convencido de que ela tinha razão, ele jamais achava que estava
errado, mas tão somente porque se achava um marido muito bom, e não gostava de
confusão.
O plano
funcionou. Cordeiro ficou orgulhoso de “sua” esperteza. Contava para todo mundo
o seu plano de manter o preço e ouvir as propostas dos compradores.
– Muito
interessante esse Cordeiro – pensava Francismara – eu tenho as ideias, faço a
maior briga para conseguir convencê-lo a acatá-las, então, se a coisa funciona,
é ele quem recebe as honras.
Estava
tudo certo. Um desconhecido vindo de um outro estado fez-lhe uma boa proposta.
Era menos do que Cordeiro pedia, porém mais do que os outros ofereciam.
Fecharam o negócio pelo telefone. Cordeiro e a mulher sentiram-se satisfeitos.
No dia seguinte,
Cordeiro e o comprador foram ao cartório, a fim de darem entrada na
transferência da escritura das terras.
Ao
meio-dia, quando Cordeiro chegou em casa, foi contar detalhadamente tudo que
havia se passado no cartório. Ele, o comprador e o tabelião fizeram um acordo
entre si, para colocarem na escritura que as terras tinham sido vendidas pela
metade do valor real que Cordeiro iria receber por elas.
Francismara
cismou. Achou logo que era esperteza do comprador. Com certeza ele pretendia
pagar somente o que estava registrado no papel.
– Mas,
minha filha, esse comprador pareceu-me um homem muito honesto. E pra falar a
verdade, foi o próprio tabelião quem sugeriu esse preço, assim Lobo não vai
pagar um absurdo de IPTU...
– Quem? – indagou
Francismara com olhos arregalados.
– Armando
Lobo. É o cara que vai comprar as terras...
Agora foi
que Francismara ficou mais desconfiada ainda. Fez uma tremenda confusão.
Cordeiro, coitado, sentiu-se tremendamente injustiçado, afinal que culpa tinha
ele se o sobrenome do cara era Lobo? Poderia ser Pinto, Bezerra, Coelho,
Formiga, Camelo, Raposo... opa, Raposo, não! Com esse sobrenome sua mulher
também implicaria.
Para
tranquilizar a mulher, telefonou para o comprador e exigiu-lhe o pagamento em
dinheiro, antes de assinarem a papelada. O homem concordou imediatamente. Muito
gentil, disse que Cordeiro estava coberto de razão, afinal, ele era um
desconhecido, era bom mesmo que fizessem as coisas do jeito que elas deveriam
ser.
Desligou o
telefone, sentindo-se ainda mais convicto da integridade de Armando Lobo.
– Você é
muito desconfiada, Francismara...
– E você
confia demais nas pessoas, Cordeiro. Por isso passa-se por tolo. Minha mãe
sempre dizia que é melhor confiar desconfiando.
Ora,
Francismara achava que era muita coincidência aquele contraste de nomes. Assim,
a cada vez que o marido telefonava para o comprador, e ela o ouvia dizer:
‘Lobo, aqui é Cordeiro’, seus maus pressentimentos aumentavam ainda mais.
Repentinamente,
Francismara adoeceu. Ficou de cama, com febre alta. Delirava vendo cenas em que
o tal Lobo trapaceava seu marido Cordeiro. Tiveram que adiar as negociações.
O médico
diagnosticou que a paciente estava à beira de um colapso nervoso causado por
preocupações excessivas.
Resolveu
contar toda a história ao médico. Além da história real, argumentou também
sobre todas as possíveis ciladas que o tal Lobo poderia estar armando contra
Cordeiro.
O médico
achou a coisa um tanto quanto cômica, e até deixou escapar alguns risinhos. A
cara que ele fez poderia ser traduzida por “mulher tem mesmo uma imaginação
muito fértil”. Bom, já que precisava ajudar sua paciente a restabelecer a saúde,
aconselhou a Cordeiro que procurasse agir com prudência. Afinal, a prudência é
uma excelente virtude. Além disso, ele não tinha motivos nem para confiar, nem
para desconfiar do desconhecido comprador.
– Mais prudente do que tenho sido, doutor? Ora, foi ela mesma
quem disse que eu vendesse a quem oferecesse mais...
– É, eu disse mesmo. Só que eu jamais iria prever que o cara se
chamava Lobo. Pra falar a verdade, doutor, não é bem o fato do outro se chamar
Armando Lobo que me preocupa. O problema mesmo é mais essa coisa do meu marido
se chamar Cordeiro. Desde pequeno que ele acaba sendo trapaceado de alguma
forma. As pessoas vendem algo pra ele garantindo que é coisa de boa qualidade.
Ele, então, imediatamente acredita só pelo fato do vendedor ser um antigo
conhecido, pessoa muito religiosa, alguém com cara de honesto, ou coisa parecida.
Por causa disso, ele já andou caindo no conto do vigário várias vezes.
– Entendo... É isso mesmo. Sr. Cordeiro, uma experiência ajuda a
outra. Já leu a fábula O Lobo e o
Cordeiro?
– Mas é claro!
– E então, o que achou?
– Sei lá. Nem me lembro direito dessa estória. Mas parece que o
Lobo estava arranjando desculpas para devorar o Cordeiro...
– Eu achei que o Cordeiro foi muito ingênuo – disse Francismara
intrometendo-se na conversa. – Em vez de ficar argumentando com o Lobo, ele
deveria ter ido embora... Também achei que faltou uma mulher na história... Se
o Cordeiro fosse uma mulher teria percebido imediatamente as más intenções do
Lobo.
O doutor
apenas esboçou um risinho tímido. Achava sua cliente um pouco encrenqueira.
Todavia, se porventura a aconselhava a ser mais
tranquila, ela dizia que a maciez do marido é que lhe provocava a irritação. O
marido era do tipo que nunca se estressava com nada; no entanto causava estresse
nos outros com seu jeitão maçante e teimoso.
Nos dias em que a mulher esteve doente, Cordeiro refletiu
bastante sobre a venda de seus sítios. Se Francismara estivesse certa, o
comprador poderia até ter um plano para trapaceá-lo; porém se ele desistisse do
negócio e o tal Lobo fosse mau? Poderia querer vingar-se tirando-lhe a vida ou
coisa parecida. Assim, seria bem melhor que a perda fosse mesmo material.
Nesse ponto, marido e mulher estavam de acordo. Na sexta-feira,
três dias depois do combinado, estavam todos no cartório. Mesmo carregada de
preocupações, Francismara caprichou no visual. De uma maneira ou de outra,
impressionou aos que estavam presentes no recinto. As funcionárias deram uma
paradinha nos seus afazeres para dar uma espiadinha. Discretamente cochichavam
entre si. No entanto, não deu para distinguir se os comentários eram de
aprovação ou desaprovação, as mulheres são muito imprevisíveis.
Às quatro e quarenta da tarde, Cordeiro conferiu o pagamento das
terras vendidas. Tudo certo. Colocou o dinheiro dentro da valise que trazia
consigo. Francismara ao seu lado, pernas cruzadas, óculos escuros. Parecia
autoconfiante, mas na verdade estava tensa. Não tinha certeza nem se estava agradando
com seu visual, nem se aquele negócio iria terminar bem, sem problemas.
Encerrada a negociação. Apertaram-se as mãos e saíram em direção
ao estacionamento. Surpresa: o carro de Cordeiro estava com os quatro pneus
baixos.
– Eu não disse, Cordeiro! – cochichou Francismara. – Deve ser o
plano para te pegar.
Nem deu tempo para que Cordeiro pensasse alguma coisa, surgiu
Lobo, com voz grave, cheio de gentilezas.
– Ih, rapaz, já sei o que foi isso. Na terça-feira, quando
estacionamos aqui, o flanelinha te pediu dinheiro e você não deu, certo?
– Isso mesmo. Eu tava sem trocado.
– Pois é, já fizeram isso comigo uma vez. Entra aí. Eu te dou
uma carona.
Francismara
não queria aceitar. Argumentou que iam para lugares extremos. Como Lobo
insistisse, Cordeiro acabou aceitando, contrariando a vontade da mulher. Se
entreolharam: ela com cara sisuda, estava pensando:
– Ingênuo,
esse Cordeiro!
Ele
colocou a mão no ombro da esposa como se quisesse dizer:
– Não
esquenta, baby!
Se pelo
menos o banco estivesse aberto, mas não estava. Além disso, Cordeiro era teimoso
além da conta. Com seu jeitinho manso de quem não quer confusão, teimava até as
pessoas se irritarem ou serem vencidas pelo cansaço. Melhor mesmo era Francismara
entrar no carro e pensar numa outra saída.
– Que tal
um brinde! – sugeriu Armando Lobo.
– E por
que não, uma vezinha assim, não faz mal nenhum, não é mesmo, querida?
Ora
Cordeiro nem sequer bebia. Francismara estava pra lá de furiosa. Ergueu uma das
sobrancelhas em sinal de reprovação. Se estivessem sentados a uma mesa lhe teria
dado uma pisada no pé. Mas ali no banco de trás do carrão luxuoso do tal Lobo,
não tinha como fazer o marido entender que tudo que ela queria era escapar
dali. Permaneceu calada; enquanto Cordeiro seguia num blá-blá-blá sem fim,
fazendo propaganda de suas qualidades. Não havia no mundo alguém mais calmo,
organizado, prevenido, etc.
Lobo, com
seu porte sério e charmosão, apenas ouvia. Regulou o retrovisor, viu a cara de
entediada que Francismara estava fazendo. Ao perceber que estava sendo
observada, sutilmente mudou de lugar. Cordeiro, tipo acanhado, franzino e
desprovido de beleza, continuava tagarelando, segurando no colo a valise onde
carregava o dinheiro da venda de suas terras.
– Você foi
esperto, Lobo, fez um excelente negócio, parabéns. Aquelas terras são boas.
Tudo que planta dá. Além disso o preço tava bom...
Prosseguiu
tagarelando, sem parar. Enquanto Francismara pensava:
–
Engraçado, em casa diz que não conversa porque não tem assunto. Agora fica aí
se desmanchando em tolices.
– É,
parece que seu marido é mesmo muito cheio de virtudes – comentou Lobo tentando
envolver Francismara na conversa. Ela, porém, fez que não ouvia.
– ...Só
não sou muito bom em
negócios. Nisso minha mulher é mais esperta que eu. Sou meio
ingênuo e as pessoas acabam me trapaceando... blá- blá-blá...
– Conheci
um restaurante na saída da cidade – falou Lobo novamente. – Uma beleza! Podemos
tomar um drinque e em seguida pedir o jantar. Vocês são meus convidados.
– Por mim
tudo bem – virou-se para o banco de trás do carro. – Que acha querida?
Ela sabia
até qual era o restaurante. Muito agradável, por sinal. Porém, como estava com
a ideia fixa de que o comprador estava seguindo um plano para trapacear
Cordeiro, tratou de pensar numa estratégia cinematográfica para a fuga.
Foi nesse
instante que, para sua alegria, do outro lado da estrada ela avista Nivaldo, um
grande amigo de Cordeiro. Num impulso, coloca a cabeça para fora da janela do veículo
e grita a plenos pulmões:
–
Nivaldooooooooo!
Nivaldo
parou o carro, imediatamente.
– Ei, seu
Lobo, para aí o carro, por favor. A gente fica por aqui. Lembrei que tenho um
compromisso inadiável.
Nem bem
Lobo parou no acostamento, Francismara saltou do carro. Acenou-lhe, muito
simpática:
– Obrigada
aí pela carona.
Atravessou
a estrada equilibrando-se desajeitadamente em seus sapatos altíssimos. Por essa
nem Lobos nem Cordeiros esperavam.
– É melhor
eu ir com ela, sabe como são as mulheres...
– Tudo bem,
– concordou Lobo – fica pra próxima.
Cordeiro
queria ir direto pra casa, mas Francismara, muito chateada, disse que ele não
se atrevesse a discordar dela naquele momento: iriam passar a noite em casa de
Nivaldo. Lá estariam seguros. Ninguém saberia onde encontrá-los, além disso a
mansão do amigo tinha muros altíssimos, guardados por cerca elétrica e três
cachorros pra lá de ferozes. No dia seguinte, sairiam disfarçados e
depositariam o dinheiro no banco.
Nivaldo,
ao saber de toda a história, achou que tudo era apenas cisma de Francismara,
porém era do tipo que acreditava que é melhor prevenir do que remediar. A
mulher de Nivaldo, uma criaturinha muito sensível, que facilmente se impressionava
com certos acontecimentos, ficou falando num blá-blá-blá sem fim, dizendo
coisas do tipo:
– Gente
que perigo! Que bom que vocês escaparam com vida! Nivaldo salvou a vida de
vocês...
Cordeiro, por sua vez, não tinha a
menor paciência com a mulher do amigo. Achava que ela falava besteiras demais.
Vez por outra comentava com Francismara:
– Não sei
como é que Nivaldo aguenta aquela mulher!
Depois do
jantar, sentaram-se na sala de TV. Cordeiro, então, muito satisfeito, trouxe a
valise com o dinheiro para conferir novamente, diante do amigo. Tremenda
surpresa: o pacote com o dinheiro havia su-mi-do. O homem ficou branco como uma
folha de papel.
– Essa
não, o dinheiro sumiu! – pronunciou com grande espanto.
– Sumiu?!
– indagaram os presentes.
– Sumiu,
como? – quis saber Nivaldo.
– Sumindo,
ora, sei lá como...
Francismara,
com cara de quem estava bastante chocada, correu para o quarto de hóspede, sem
fazer qualquer confusão. Dá para acreditar? Cordeiro ficou mais angustiado ainda.
Melhor seria se ela tivesse agido normalmente; afinal de contas, já estava
acostumado a levar broncas na presença do amigo Nivaldo e de sua mulher. Uma a
mais não faria a menor diferença.
–
Surpresa! Olha onde está o dinheiro – gritou Francismara, agitando sua bolsa no
ar.
– Na sua
bolsa?
– Pois é
...
– Mas como
pode ser isso se não me descuidei dessa valise um só instante?
– Tenho lá
minhas espertezas.
A verdade
é que ninguém percebeu o momento em que Francismara
fez a transferência do dinheiro para sua bolsa. Se foi dentro do
cartório, nem o tabelião viu, os funcionários muito menos. Se foi no
estacionamento ou durante o trajeto enquanto seguiam para o restaurante na
saída da cidade, nem Lobo nem Cordeiro lhe perceberam a sutileza. O marido até
insistiu que ela contasse como conseguira realizar tal façanha, mas isso ela
não conta de modo algum. Disse que uma mulher verdadeiramente esperta jamais revela
os seus segredos.
Cordeiro
ficou satisfeito com a explicação da mulher. Era melhor não insistir, para evitar
confusão. Nivaldo, porém, ficou muito preocupado com o amigo. Achou que ele só
não se deu mal nessa história tão somente porque Francismara não tinha planos
de fugir com alguém. Se tivesse, evidentemente, ele não veria o pacote com o
dinheiro nunca mais. Estava ficando cheia de artimanhas, a mulher do amigo:
precisava avisá-lo para tomar cuidado. Se pelo menos Cordeiro aprendesse a
lição. Entretanto, parecia que quanto mais era enganado mais tolo ele ficava.
Conversa
vai, conversa vem, Francismara resolveu se exibir, dizendo novamente que na
Fábula O Lobo e o Cordeiro faltou a
participação de uma mulher. Desta vez, o marido nem teimou, concordou, todo
sorridente. Nivaldo, pensativo, assim como quem não quer nada, fez o seguinte
comentário:
– Talvez
sim, talvez não. A presença feminina até que torna a trama mais excitante, mas
o que faltou realmente na fábula foi um amigo sincero para avisar ao cordeiro
que ele não deveria confiar tão cegamente nas pessoas, principalmente se tiver
mulher na história. Mulheres astutas são mais perigosas que os lobos.
Nem
Cordeiro nem a esposa de Nivaldo levaram a sério a profundeza da mensagem:
acharam que era apenas mais uma piadinha machista para fazê-los rir, e então
riram. Por outro lado, Francismara entendeu perfeitamente o que ele queria
dizer, e riu também, caprichando na gargalhada espalhafatosa. Achou Nivaldo tão
ingênuo quanto Cordeiro, por ele achar que as mulheres sonsas, aparentemente
estúpidas, como a sua, não são capazes de enganar os maridos. Quanto mais ela
ria, mais Nivaldo achava que ela era astuciosa. E quanto mais Nivaldo a
censurava com o olhar, mais ela ria, pensando no quanto ele era tolo.