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sábado, 25 de setembro de 2010

De Lobos e Cordeiros

Conto de Margarete Solange

Chamava-se José Márcio Toledo, conhecido pelo nome de Cordeiro. Isso desde bem pequenino. A mãe foi a responsável pela mudança do nome do menino. Ela costumava introduzi-lo nas suas conversas, dizendo:
– É um cordeirinho, meu filho. Não dá trabalho.
Filho mais obediente que o dela não poderia haver no mundo, ela garantia. Assim sendo, com o compromisso de não desapontar a mãe, o menino procurava ao longo dos anos ser exatamente como ela dizia que ele era: uma criatura de virtudes superiores às dos outros. A calma, obediência e lealdade de Cordeiro tinham que ser mencionadas sempre. Para a mãe coruja, o seu cordeirinho não tinha defeitos.
Cordeiro tornou-se um rapaz cobiçadíssimo pelas jovens solteiras de sua vizinhança. Por fim, casou com Francismara, filha de seu Francisco e dona Mara. Moça de tipo bem comum, nenhuma de suas virtudes se aproximava dos padrões de perfeição. Se a mãe de Cordeiro ainda fosse viva, com certeza não aprovaria essa união.
Francismara não era baixa, nem alta; não era feia, mas também não ganharia nenhum concurso de beleza. Não tinha uma inteligência privilegiada, mas também não era modelo de estupidez. A princípio, trajava-se com modéstia; todavia, depois que Cordeiro recebeu a herança deixada pelos avós maternos, ela passou a investir na aparência pessoal. Continuou tudo na mesma, já que, por alguns, ela era citada como modelo de elegância, enquanto, para outros, não passava de uma perua, uma pobretona que melhorara de vida e queria impressionar.
Cordeiro ficou meio surpreso com a mudança; contudo, como aprendera desde pequeno a ser manso e submisso, não deu nenhuma palavra sobre o assunto. Já que Francismara estava feliz com seu visual carregado de maquiagem e joias, para que reclamar?
Resolveram vender os sítios que Cordeiro havia herdado nos arredores da cidade. As terras eram boas e extensas. Valiam o preço que Cordeiro pedia. A verdade é que, vender muitas terras em cidadezinha do interior não é tarefa fácil.
Aconselharam Cordeiro a baixar preço. Ele imediatamente se convenceu de que esse seria o melhor caminho para resolver esse negócio. Ao comunicar sua decisão a Francismara, ela não concordou.
– Deixa de ser tolo, Cordeiro. Não é assim que se faz negócio, homem. Parece que não tem opinião própria. As pessoas vêm e dizem que isso ou aquilo é melhor, então você imediatamente acha que é mesmo. Para com isso. Se as terras valem o preço que você pediu por elas, é só aguardar que alguém vai reconhecer isso e pagar.
– Mas Francismara, é muito dinheiro. Quem tem essa dinheirama toda não quer investir em terras, não.
Francismara bem sabia que o marido estava tão somente repetindo o mesmo discurso que ouvira de algum colega de trabalho. Agora ia teimar com ela até deixá-la bastante chateada. Depois ficaria todo sentido pelo fato de ela discutir com ele por causa dessas pequenas coisas.
– Presta atenção, Cordeiro, porque eu não quero ficar repetindo a mesma coisa um montão de vezes até convencer essa sua cabeça dura. Você diz o seu preço e espera que os interessados façam suas contrapropostas, certo? Então, você vende as terras para aquele que fizer a proposta mais vantajosa, ou seja, para aquele que mais se aproximar do que você está pedindo.
Cordeiro teimou, insistindo que sua ideia era melhor. Aliás, a teimosia era-lhe também uma característica bem marcante da personalidade. Depois de muita reclamação, por parte da mulher, resolveu fazer do jeito que ela queria. Não porque estivesse convencido de que ela tinha razão, ele jamais achava que estava errado, mas tão somente porque se achava um marido muito bom, e não gostava de confusão.
O plano funcionou. Cordeiro ficou orgulhoso de “sua” esperteza. Contava para todo mundo o seu plano de manter o preço e ouvir as propostas dos compradores.
– Muito interessante esse Cordeiro – pensava Francismara – eu tenho as ideias, faço a maior briga para conseguir convencê-lo a acatá-las, então, se a coisa funciona, é ele quem recebe as honras.
Estava tudo certo. Um desconhecido vindo de um outro estado fez-lhe uma boa proposta. Era menos do que Cordeiro pedia, porém mais do que os outros ofereciam. Fecharam o negócio pelo telefone. Cordeiro e a mulher sentiram-se satisfeitos.
No dia seguinte, Cordeiro e o comprador foram ao cartório, a fim de darem entrada na transferência da escritura das terras.
Ao meio-dia, quando Cordeiro chegou em casa, foi contar detalhadamente tudo que havia se passado no cartório. Ele, o comprador e o tabelião fizeram um acordo entre si, para colocarem na escritura que as terras tinham sido vendidas pela metade do valor real que Cordeiro iria receber por elas.
Francismara cismou. Achou logo que era esperteza do comprador. Com certeza ele pretendia pagar somente o que estava registrado no papel.
– Mas, minha filha, esse comprador pareceu-me um homem muito honesto. E pra falar a verdade, foi o próprio tabelião quem sugeriu esse preço, assim Lobo não vai pagar um absurdo de IPTU...
– Quem? – indagou Francismara com olhos arregalados.
– Armando Lobo. É o cara que vai comprar as terras...
Agora foi que Francismara ficou mais desconfiada ainda. Fez uma tremenda confusão. Cordeiro, coitado, sentiu-se tremendamente injustiçado, afinal que culpa tinha ele se o sobrenome do cara era Lobo? Poderia ser Pinto, Bezerra, Coelho, Formiga, Camelo, Raposo... opa, Raposo, não! Com esse sobrenome sua mulher também implicaria.
Para tranquilizar a mulher, telefonou para o comprador e exigiu-lhe o pagamento em dinheiro, antes de assinarem a papelada. O homem concordou imediatamente. Muito gentil, disse que Cordeiro estava coberto de razão, afinal, ele era um desconhecido, era bom mesmo que fizessem as coisas do jeito que elas deveriam ser.
Desligou o telefone, sentindo-se ainda mais convicto da integridade de Armando Lobo.
– Você é muito desconfiada, Francismara...
– E você confia demais nas pessoas, Cordeiro. Por isso passa-se por tolo. Minha mãe sempre dizia que é melhor confiar desconfiando.
Ora, Francismara achava que era muita coincidência aquele contraste de nomes. Assim, a cada vez que o marido telefonava para o comprador, e ela o ouvia dizer: ‘Lobo, aqui é Cordeiro’, seus maus pressentimentos aumentavam ainda mais.
Repentinamente, Francismara adoeceu. Ficou de cama, com febre alta. Delirava vendo cenas em que o tal Lobo trapaceava seu marido Cordeiro. Tiveram que adiar as negociações.
O médico diagnosticou que a paciente estava à beira de um colapso nervoso causado por preocupações excessivas.
Resolveu contar toda a história ao médico. Além da história real, argumentou também sobre todas as possíveis ciladas que o tal Lobo poderia estar armando contra Cordeiro.
O médico achou a coisa um tanto quanto cômica, e até deixou escapar alguns risinhos. A cara que ele fez poderia ser traduzida por “mulher tem mesmo uma imaginação muito fértil”. Bom, já que precisava ajudar sua paciente a restabelecer a saúde, aconselhou a Cordeiro que procurasse agir com prudência. Afinal, a prudência é uma excelente virtude. Além disso, ele não tinha motivos nem para confiar, nem para desconfiar do desconhecido comprador.
– Mais prudente do que tenho sido, doutor? Ora, foi ela mesma quem disse que eu vendesse a quem oferecesse mais...
– É, eu disse mesmo. Só que eu jamais iria prever que o cara se chamava Lobo. Pra falar a verdade, doutor, não é bem o fato do outro se chamar Armando Lobo que me preocupa. O problema mesmo é mais essa coisa do meu marido se chamar Cordeiro. Desde pequeno que ele acaba sendo trapaceado de alguma forma. As pessoas vendem algo pra ele garantindo que é coisa de boa qualidade. Ele, então, imediatamente acredita só pelo fato do vendedor ser um antigo conhecido, pessoa muito religiosa, alguém com cara de honesto, ou coisa parecida. Por causa disso, ele já andou caindo no conto do vigário várias vezes.
– Entendo... É isso mesmo. Sr. Cordeiro, uma experiência ajuda a outra. Já leu a fábula O Lobo e o Cordeiro?
– Mas é claro!
– E então, o que achou?
– Sei lá. Nem me lembro direito dessa estória. Mas parece que o Lobo estava arranjando desculpas para devorar o Cordeiro...
– Eu achei que o Cordeiro foi muito ingênuo – disse Francismara intrometendo-se na conversa. – Em vez de ficar argumentando com o Lobo, ele deveria ter ido embora... Também achei que faltou uma mulher na história... Se o Cordeiro fosse uma mulher teria percebido imediatamente as más intenções do Lobo.
O doutor apenas esboçou um risinho tímido. Achava sua cliente um pouco encrenqueira. Todavia, se porventura a aconselhava a ser mais tranquila, ela dizia que a maciez do marido é que lhe provocava a irritação. O marido era do tipo que nunca se estressava com nada; no entanto causava estresse nos outros com seu jeitão maçante e teimoso.
Nos dias em que a mulher esteve doente, Cordeiro refletiu bastante sobre a venda de seus sítios. Se Francismara estivesse certa, o comprador poderia até ter um plano para trapaceá-lo; porém se ele desistisse do negócio e o tal Lobo fosse mau? Poderia querer vingar-se tirando-lhe a vida ou coisa parecida. Assim, seria bem melhor que a perda fosse mesmo material.
Nesse ponto, marido e mulher estavam de acordo. Na sexta-feira, três dias depois do combinado, estavam todos no cartório. Mesmo carregada de preocupações, Francismara caprichou no visual. De uma maneira ou de outra, impressionou aos que estavam presentes no recinto. As funcionárias deram uma paradinha nos seus afazeres para dar uma espiadinha. Discretamente cochichavam entre si. No entanto, não deu para distinguir se os comentários eram de aprovação ou desaprovação, as mulheres são muito imprevisíveis.
Às quatro e quarenta da tarde, Cordeiro conferiu o pagamento das terras vendidas. Tudo certo. Colocou o dinheiro dentro da valise que trazia consigo. Francismara ao seu lado, pernas cruzadas, óculos escuros. Parecia autoconfiante, mas na verdade estava tensa. Não tinha certeza nem se estava agradando com seu visual, nem se aquele negócio iria terminar bem, sem problemas.
Encerrada a negociação. Apertaram-se as mãos e saíram em direção ao estacionamento. Surpresa: o carro de Cordeiro estava com os quatro pneus baixos.
– Eu não disse, Cordeiro! – cochichou Francismara. – Deve ser o plano para te pegar.
Nem deu tempo para que Cordeiro pensasse alguma coisa, surgiu Lobo, com voz grave, cheio de gentilezas.
­– Ih, rapaz, já sei o que foi isso. Na terça-feira, quando estacionamos aqui, o flanelinha te pediu dinheiro e você não deu, certo?
– Isso mesmo. Eu tava sem trocado.
– Pois é, já fizeram isso comigo uma vez. Entra aí. Eu te dou uma carona.
Francismara não queria aceitar. Argumentou que iam para lugares extremos. Como Lobo insistisse, Cordeiro acabou aceitando, contrariando a vontade da mulher. Se entreolharam: ela com cara sisuda, estava pensando:
– Ingênuo, esse Cordeiro!
Ele colocou a mão no ombro da esposa como se quisesse dizer:
– Não esquenta, baby!
Se pelo menos o banco estivesse aberto, mas não estava. Além disso, Cordeiro era teimoso além da conta. Com seu jeitinho manso de quem não quer confusão, teimava até as pessoas se irritarem ou serem vencidas pelo cansaço. Melhor mesmo era Francismara entrar no carro e pensar numa outra saída.
– Que tal um brinde! – sugeriu Armando Lobo.
– E por que não, uma vezinha assim, não faz mal nenhum, não é mesmo, querida?
Ora Cordeiro nem sequer bebia. Francismara estava pra lá de furiosa. Ergueu uma das sobrancelhas em sinal de reprovação. Se estivessem sentados a uma mesa lhe teria dado uma pisada no pé. Mas ali no banco de trás do carrão luxuoso do tal Lobo, não tinha como fazer o marido entender que tudo que ela queria era escapar dali. Permaneceu calada; enquanto Cordeiro seguia num blá-blá-blá sem fim, fazendo propaganda de suas qualidades. Não havia no mundo alguém mais calmo, organizado, prevenido, etc.
Lobo, com seu porte sério e charmosão, apenas ouvia. Regulou o retrovisor, viu a cara de entediada que Francismara estava fazendo. Ao perceber que estava sendo observada, sutilmente mudou de lugar. Cordeiro, tipo acanhado, franzino e desprovido de beleza, continuava tagarelando, segurando no colo a valise onde carregava o dinheiro da venda de suas terras.
– Você foi esperto, Lobo, fez um excelente negócio, parabéns. Aquelas terras são boas. Tudo que planta dá. Além disso o preço tava bom...
Prosseguiu tagarelando, sem parar. Enquanto Francismara pensava:
– Engraçado, em casa diz que não conversa porque não tem assunto. Agora fica aí se desmanchando em tolices.
– É, parece que seu marido é mesmo muito cheio de virtudes – comentou Lobo tentando envolver Francismara na conversa. Ela, porém, fez que não ouvia.
– ...Só não sou muito bom em negócios. Nisso minha mulher é mais esperta que eu. Sou meio ingênuo e as pessoas acabam me trapaceando... blá- blá-blá...
– Conheci um restaurante na saída da cidade – falou Lobo novamente. – Uma beleza! Podemos tomar um drinque e em seguida pedir o jantar. Vocês são meus convidados.
– Por mim tudo bem – virou-se para o banco de trás do carro. – Que acha querida?
Ela sabia até qual era o restaurante. Muito agradável, por sinal. Porém, como estava com a ideia fixa de que o comprador estava seguindo um plano para trapacear Cordeiro, tratou de pensar numa estratégia cinematográfica para a fuga.
Foi nesse instante que, para sua alegria, do outro lado da estrada ela avista Nivaldo, um grande amigo de Cordeiro. Num impulso, coloca a cabeça para fora da janela do veículo e grita a plenos pulmões:
– Nivaldooooooooo!
Nivaldo parou o carro, imediatamente.
– Ei, seu Lobo, para aí o carro, por favor. A gente fica por aqui. Lembrei que tenho um compromisso inadiável.
Nem bem Lobo parou no acostamento, Francismara saltou do carro. Acenou-lhe, muito simpática:
– Obrigada aí pela carona.
Atravessou a estrada equilibrando-se desajeitadamente em seus sapatos altíssimos. Por essa nem Lobos nem Cordeiros esperavam.
– É melhor eu ir com ela, sabe como são as mulheres...
– Tudo bem, – concordou Lobo – fica pra próxima.
Cordeiro queria ir direto pra casa, mas Francismara, muito chateada, disse que ele não se atrevesse a discordar dela naquele momento: iriam passar a noite em casa de Nivaldo. Lá estariam seguros. Ninguém saberia onde encontrá-los, além disso a mansão do amigo tinha muros altíssimos, guardados por cerca elétrica e três cachorros pra lá de ferozes. No dia seguinte, sairiam disfarçados e depositariam o dinheiro no banco.
Nivaldo, ao saber de toda a história, achou que tudo era apenas cisma de Francismara, porém era do tipo que acreditava que é melhor prevenir do que remediar. A mulher de Nivaldo, uma criaturinha muito sensível, que facilmente se impressionava com certos acontecimentos, ficou falando num blá-blá-blá sem fim, dizendo coisas do tipo:
– Gente que perigo! Que bom que vocês escaparam com vida! Nivaldo salvou a vida de vocês...
            Cordeiro, por sua vez, não tinha a menor paciência com a mulher do amigo. Achava que ela falava besteiras demais. Vez por outra comentava com Francismara:
– Não sei como é que Nivaldo aguenta aquela mulher!
Depois do jantar, sentaram-se na sala de TV. Cordeiro, então, muito satisfeito, trouxe a valise com o dinheiro para conferir novamente, diante do amigo. Tremenda surpresa: o pacote com o dinheiro havia su-mi-do. O homem ficou branco como uma folha de papel.
– Essa não, o dinheiro sumiu! – pronunciou com grande espanto.
– Sumiu?! – indagaram os presentes.
– Sumiu, como? – quis saber Nivaldo.
– Sumindo, ora, sei lá como...
Francismara, com cara de quem estava bastante chocada, correu para o quarto de hóspede, sem fazer qualquer confusão. Dá para acreditar? Cordeiro ficou mais angustiado ainda. Melhor seria se ela tivesse agido normalmente; afinal de contas, já estava acostumado a levar broncas na presença do amigo Nivaldo e de sua mulher. Uma a mais não faria a menor diferença.
– Surpresa! Olha onde está o dinheiro – gritou Francismara, agitando sua bolsa no ar.
– Na sua bolsa?
– Pois é ...
– Mas como pode ser isso se não me descuidei dessa valise um só instante?
– Tenho lá minhas espertezas.
A verdade é que ninguém percebeu o momento em que Francismara fez a transferência do dinheiro para sua bolsa. Se foi dentro do cartório, nem o tabelião viu, os funcionários muito menos. Se foi no estacionamento ou durante o trajeto enquanto seguiam para o restaurante na saída da cidade, nem Lobo nem Cordeiro lhe perceberam a sutileza. O marido até insistiu que ela contasse como conseguira realizar tal façanha, mas isso ela não conta de modo algum. Disse que uma mulher verdadeiramente esperta jamais revela os seus segredos.
Cordeiro ficou satisfeito com a explicação da mulher. Era melhor não insistir, para evitar confusão. Nivaldo, porém, ficou muito preocupado com o amigo. Achou que ele só não se deu mal nessa história tão somente porque Francismara não tinha planos de fugir com alguém. Se tivesse, evidentemente, ele não veria o pacote com o dinheiro nunca mais. Estava ficando cheia de artimanhas, a mulher do amigo: precisava avisá-lo para tomar cuidado. Se pelo menos Cordeiro aprendesse a lição. Entretanto, parecia que quanto mais era enganado mais tolo ele ficava.
Conversa vai, conversa vem, Francismara resolveu se exibir, dizendo novamente que na Fábula O Lobo e o Cordeiro faltou a participação de uma mulher. Desta vez, o marido nem teimou, concordou, todo sorridente. Nivaldo, pensativo, assim como quem não quer nada, fez o seguinte comentário:
– Talvez sim, talvez não. A presença feminina até que torna a trama mais excitante, mas o que faltou realmente na fábula foi um amigo sincero para avisar ao cordeiro que ele não deveria confiar tão cegamente nas pessoas, principalmente se tiver mulher na história. Mulheres astutas são mais perigosas que os lobos.
Nem Cordeiro nem a esposa de Nivaldo levaram a sério a profundeza da mensagem: acharam que era apenas mais uma piadinha machista para fazê-los rir, e então riram. Por outro lado, Francismara entendeu perfeitamente o que ele queria dizer, e riu também, caprichando na gargalhada espalhafatosa. Achou Nivaldo tão ingênuo quanto Cordeiro, por ele achar que as mulheres sonsas, aparentemente estúpidas, como a sua, não são capazes de enganar os maridos. Quanto mais ela ria, mais Nivaldo achava que ela era astuciosa. E quanto mais Nivaldo a censurava com o olhar, mais ela ria, pensando no quanto ele era tolo.

*       *      *

Fonte: Margarete Solange.
Ninguém é Feliz sem Problemas.
Fundação Vingt-un Rosado, 2009.
.
Obra premiada no concurso literário
escritor Norte-riograndense:
Projeto Rota Batida III.
Fundação Mossoroense
em dezembro de 2008.

14 comentários:

  1. Gente essa FranCISMADA é das minhas KKK

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  2. Também me identifiquei com a esperteza de Fancis, Josy. Adorei esse conto exaltado a figura feminina! Gostei quando se referindo a fábula O LOBO e O CORDEIRO, a personagem diz: “achei que faltou uma mulher na história... Se o Cordeiro fosse uma mulher teria percebido imediatamente as más intenções do Lobo”. É isso mesmo, a mulher é peça fundamental em poesias e prosas. Histórias que não têm a presença feminina são monótonas e sem graça: nós somos o brilho, o colorido e a essência de uma boa narrativa. Big beijo da Anita Superminhoquita.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Adorei o conto, muito legal. E Francismara representa bem a figura feminina, embora um pouco exagerada, mas ela consegue salvar seu cordeiro das garras do Lobo. kkkkk. Aninha gostei tbm da alusão que a autora faz a fábula O Lobo e O Codeiro, bem criativa a maneira que ela usou para recontar um pouco a historinha.

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  5. Já li esse conto várias vezes,acho que Francismara tava cera mesmo,o marido dela é que é bobo D+.
    Não entendo como um escritor bola um conto tão cheio e reviravoltas e no fim da tudo certo.
    Amo este conto.Parabéns Margarete.

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  6. Obrigada, querida, Nadjane. Vou tentar explicar como é que surgem as histórias. De repente a partir de um episodiozinho que o escritor presenciou, ou alguém lhe contou, ou ele leu ou imaginou, enfim, a partir de uma coisinha de nada ele fica grávido da história. Daí ela vai sendo gerada em sua mente e imaginação. Quando ele vai colocar no papel ela está bem encaminhada, por vezes com começo, meio e fim, faltando unicamente os detalhes. Então, os personagens vão ganhando vida própria e a partir de suas personalidades vão agindo, tramando, decidindo. Quando o escritor percebe, por vezes a narrativa toma um rumo diferente do que ele imaginou no início, porque os personagens passam a interferir na construção da história. Todavia, acima de tudo, acredito que além do talento pra escrever, tem que haver a capacidade para criar, as duas coisas combinadas é que fazem as histórias ter a reviravoltas a que vc se refere. Grande abraço

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  7. Outro,mesmo assim acho dificílimo.parabéns por ter esse dom que Deus te deu.

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  8. Este conto é muito criativo, mostra que a escritora tem talento. Gostei muito do conto e para falar a verdade me identifiquei com Cordeiro kkkkkkk e Francismara me lembra minha noiva rsrsrs.

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  9. Tbm, gsto muito desse conto. Mostra bem o lado das mulheres ao contrário de outras literaturas que pintam as mulheres como sendo burras e inteligentes... o fato é existem mulheres ingenuas no mundo tanto quanto homens

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  10. Muito legal esse conto, pois enaltece as virtudes das mulheres... Somos mais espertas do que os homens imaginam. Gostei da parte em que diz que não devemos revelar nossos segredos. kkkk

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  11. A história é muito interessante e profunda. O casal da história nos faz lembrar pessoas que a gente conhece. As aparências enganam. A mulher suspeita que o Lobo vai carregar o dinheiro de seu marido, mas no fim ela é que é a astuciosa e carrega o dinheiro sem ninguém ver. Embora seja por uma boa causa, pois pensa que o marido vai se enganado. Francismara é mesmo uma mulher muito esperta e astuciosa.

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  12. Eu acho essa Francismara muito astuta. Esse cordeiro foi feito para parecer com muitos homens e Francismara com muitas mulheres que tem por aí.

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  13. É realmente um conto que causa expectativa, pois o leitor não sabe o que vai acontecer de fato no final. A desconfiança exagerada de Francismara é o comportamento típico de muitas mulheres e até de alguns homens que acham que todo mundo é desonesto, mas em minha opinião, a principio todo mundo é honesto até que se prove o contrário.

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  14. Me divirto muito lendo esse conto. Além de briguinhas bem corriqueiras entre casais puxando para as queixas femininas, me divirto com a desconfiança de Francismara pelo simples fato do cara se chamar Lobo e seu marido ser Cordeiro. É interessante também como a narrativa vai puxando para a sardinha das mulheres fazendo a personagem Francismara se destacar pelas suas artimanhas. Mesmo sendo uma perua de visual exagerado tem inteligência para tramar e compreender as insinuações de Nivaldo em relação a sua conduta de esposa. E, por fim, o conto encerra deixando no ar o pensamento de Francismara em relação à malícia de Nivaldo em julgá-la. Para ela, Nivaldo é tão ingênuo quanto Cordeiro por achar que mulheres sonsas como a sua não são capazes de enganar seus maridos.

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