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sábado, 24 de abril de 2010

Histórias Bíblicas I - Poesias infantis

de Margarete Solange
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Ilustrações de Jorge Davi *
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Vinde a Mim
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Quem fez os peixes?
Quem foi que fez o mar?
Peixes dourados,
Peixes pretinhos
Ligeirinhos a nadar.

Quem fez os passarinhos?
Quem foi que fez o ar?
Pássaros grandes
Ou pequeninos pousam
Alegres para cantar...

Quem disse as criancinhas
“Vinde a mim” com tanto amor?
Quem fez a bela voz
E o perfeito louvor?


Nadam os peixes no fundo do mar,
Voam os pássaros livres pelo ar,
E os pequeninos de todo coração,
Louvam ao Deus da criação.




Fonte: Margarete Solange. Inventor de Poesia Infantil: Fantoches e Poesia. Queima Bucha, 2010.
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* Veja nos arquivos de Março/2010: Conhecendo o Ilustrador

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Histórias Bíblicas II - Poesias infantis

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de Margarete Solange
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Ilustraçôes de Jorge Davi *

Bom Filho
....................................Margarete Solange .................
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Jesus pequenino crescia
Em graça e em sabedoria.
Obedecendo a José,
Respeitando a Maria.
Quando sua mãe o chamava,
Imediatamente atendia.
Trabalhava com o pai

Na carpintaria.
Se lhe davam alguma tarefa,
Não reclamava,
Mais que depressa, fazia.
Agradava José,
Enchia de orgulho a Maria.
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Jesus, o bom filho, crescia
Em graça e em sabedoria.

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O Filho
Desaparecido
......................................Margarete Solange .................
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Páscoa em Jerusalém.
Tendo encerrado a festa,

Caminharam por um dia
Voltando para a Galiléia
A família de Maria.

Procuraram entre os parentes
O filho desaparecido.
Ele tinha doze anos
E havia se perdido.

A mãe tão preocupada,
A alma cheia de dores,
O encontrou depois de três dias
Conversando com os doutores.

O pequeno estava no templo
Fazendo a vontade do Pai.
E assim Jesus crescia
E se fortalecia em espírito
E em sabedoria.

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Fonte: Margarete Solange. Inventor de Poesia Infantil: Fantoches e Poesia.  Queima Bucha, 2010.


* Veja nos arquivos de Março/2010: Conhecendo o Ilustrador
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Histórias Bíblicas III - Poesias infantis

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Ilustrações de Jorge Davi *
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O Pequeno e o Gigante
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 Margarete Solange....................................................

O jovem Davi,
Filho mais novo de Jessé,
Era quase um menino
Ainda franzino
Mas era um valente pastor.
Para defender as ovelhas de seu pai,

Sem temor enfrentou um urso
Que era grandão
E tempos depois matou
Um feroz leão.

Até que um dia um soldado filisteu
Provocou covardemente
Os soldados do povo hebreu.
O pastorzinho não gostou
Decidiu enfrentá-lo
Em nome do Senhor.
Primeiro orou a Deus,
Não quis lança, nem espada,
Nem a armadura emprestada
Que era grande e bem pesada.
Preparou a sua funda
E com ela atirou.
Assim, com uma pedrada
O gigante derrotou.

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Salvo das águas
Margarete Solange
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Há muito tempo atrás,
No Egito aconteceu
Que um perverso Faraó
Mandou matar
Os filhos homens
Nascidos dos hebreus.

Joquebede teve um menino
E decidiu o esconder
Num cesto de vime
Entre os juncos do rio
Para ele não morrer.

Num lugar silencioso
Onde a princesa se banhava,
Ouvia-se o canto dos pássaros
E um menino que chorava.

Moisés foi salvo das águas
Pela filha de faraó.
Cercado de amor
No palácio cresceu
E como um príncipe
Estudou.
Mas jamais se esqueceu
De que era um hebreu
E seu povo adorava
Unicamente a Deus.

Um Baixinho
Enganador
                                                      Margarete Solange

Em meio à multidão,
Um cobrador de impostos,
Um baixinho enganador
Com o coração arrependido,
Queria confessar seus pecados
Ao Salvador.
Seguiu a multidão,
Pulou, pulou
Mas nada viu,
Mesmo assim não desistiu.
Correu por outro caminho
E numa figueira subiu.
Quando a multidão
Embaixo da árvore passou,
O mestre o viu e
Seu nome chamou:
Que susto Zaqueu levou!
Depressa desceu,
Quase caiu,
Alegre sorriu,
Quem sabe pensou:
– Jesus sabe quem eu sou!
E em sua casa a luz entrou.
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*       *       *
Fonte: Margarete Solange.
Inventor de Poesia Infantil
Fantoches e Poesia. 
Queima Bucha, 2010.


terça-feira, 20 de abril de 2010

A Esperança é a Chave que abre os Sonhos - crônica

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de Margarete Solange
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Essa crônica foi escrita quando a autora tinha 17 anos
e foi publicada inicialmente no Livreto Um Chão Maior,
em Natal, RN, em 1981, com o título "Por que Calar?".
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De nada nos vale um corpo tão forte e olhos tão secos que não brilham nunca, nem de amor, nem de tristeza. Os lábios precisam abrir-se para falarmos o que pensamos e sentimos.
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 Nosso corpo pode ser como raízes fincadas no chão, mas temos o pensamento livre e independente de verdades e mentiras, certo e errado, olhares e julgamentos. Somos livres para seguir ou ficar, falar ou calar, defender ou acusar.
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Tantas palavras serviriam de conforto a alguém e nos negamos a falar. Por que calar? E por que calamos?
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Não vamos contra o rumo da vida, não somos justos, somos fracos. Não voamos, rastejamos! Se a nada nos dedicamos, então, não existimos.
.Avante, sempre em busca dos nossos sonhos. Se há fracassos em nosso viver, que fiquem para trás. Mais importante que acertar é tentar, mais importante que vencer é ousar. Se não conseguimos mudar, pelo menos que desejemos ser melhores; se não alcançamos a perfeição, que pelos menos possamos reconhecer nossas limitações.
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Precisamos fazer felizes a nós mesmos e àqueles que nos cercam. A vida nem sempre é bela, mas é a vida! Dores e sofrimentos acabam por nos desacatar de um ou de outro modo. E o que fazer? Devemos ser fortes, lutar e prevalecer!
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A esperança é a chave que abre os sonhos. O impossível pode se desfazer e podemos convencer o destino a nos contentar
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Fonte: Margarete Solange. Um Chão Maior.  Santos Editora, 2001.
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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Qual o estilo da autora escrevendo em verso?

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Os versos de Margarete Solange falam da busca que todos têm dentro de si para encontrar o que lhes falta, aquilo que trará contentamento: seja paz em Deus, amor ou amizade. A melancolia também se constitui tema sempre presente em seus versos, o que não significa dizer que a autora seja necessariamente uma pessoa infeliz, descontente, conforme sugere na poesia “Inventor de Poesias”.
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Na crônica "Na tristeza faço versos", a autora diz que na alegria está ocupada demais para escrever, deixando essa tarefa reservada para os dias de desgosto e solidão. Justifica-se, também, dizendo que escreve poesias para aqueles que precisam delas. Acredita que as poesias tristes fazem bem para as pessoas carentes: ao saber que seus sofrimentos fazem parte da vida de outros, os feridos se alegram por descobrirem que alguém compartilha do mesmo sofrer e, assim, já não se sentirão tão isolados em seus próprios universos.
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A autora constrói os seus versos não apenas para abordar os seus próprios sentimentos, mas também para ser porta-voz do sentir de outros. Enfim, seus poemas contemplam tanto aqueles que buscam alento em versos sentidos quanto aqueles que apreciam a leitura de boas poesias.


Prefácio de Jorge Luiz 
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Fonte: Margarete Solange. Um Chão Maior. Santos Editora, 2001.
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Para conferir o estilo da autora escrevendo em versos veja na sequência as poesias:
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Vida, Tristeza e Música
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Solidão
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Sombras
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 Vida e Obra
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e Inventor de Poesia
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VIDA, TRISTEZA E MÚSICA - Poesia

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A escritora Margarete Solange constrói os seus versos não apenas para abordar os seus próprios sentimentos, mas também para ser porta-voz do sentir de outros.
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Extraído prefácio de Jorge Luiz *
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Vida, Tristeza e Música.
Margarete Solange .................

A vida é bela...
Mas nem sempre os momentos felizes prevalecem,
Ainda assim, a felicidade existe.
Existe e perdura até você ficar triste.

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A tristeza é bela...
Desde que alguém a transforme em poesia.
Poesia sentida, cheia de dor, de saudade,
Dando aos versos certa musicalidade...
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A música é bela...
Sublime, quando a letra é sincera,
Fala de amor, releva a alma de quem a criou,
De quem ama e de quem nunca amou!

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.*    *   *
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Fontes:
Margarete Solange, Um Chão Maior. Santos Editora, 2001.
Margarete Solange. Inventor de Poesia: Versos Líricos
Queima-Bucha, 2010.
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* Veja também, nos arquivos de abril/2010: Qual o estilo da Autora Escrevendo em Versos, o prefácio de Jorge Luiz.
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SOLIDÃO - Poesia

 A poesia Solidão de Margarete Solange foi criada para ser incluída no romance Fazenda Solidão. Nessa obra, a poesia foi escrita pelo personagem Rodrigo, jornalista e escritor que publica seus trabalhos usando o pseudônimo de Haroldo Sabino.
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S.o.l.i.d.ã.o
     de Margarete Solange .................
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Solidão,O que queres de mim?
Me encantas e me apavoras...
Me embalas em teus braços possessiva,
Me abraças ou me sufocas?
Tua voz mansa me envolve e me engana
Ah!... solidão que me abraça,
Solidão que me apavora
Que queres de mim?
Amar com profundo amor
Ou me destruir com ódio cruel?
Por que me invades o peito,
Fazendo-me chorar em meu leito?
Não sei se é um refúgio
Ou um abismo sem fim.
Ah!... teus braços imensos me envolvem,
Tuas palavras me enganam
Suaves como melodias que aquietam a alma.
Murmuras aos meus ouvidos, dizendo-me que és bálsamo
E que és minha companhia fiel...
Me prendes em teus grilhões e mentes,
dizendo que quero permanecer ao teu lado.
Solidão que me encanta...
Solidão que me apavora...
És melhor que a multidão que me olha e não me vê.
Não me condenes a ser prisioneira de teus braços eternamente.
Deixa que eu me vá
e retornarei sempre que sentir necessidade de teu silêncio.
Teu colo de veludo nem sempre me aquece.
Não me queiras somente para ti.
Deixe-me ir quando os sorrisos me chamam
E me recebas sempre que buscar refúgio
em teus braços seguros.

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Fonte 1: Margarete Solange, Um Chão Maior. Santos Editora, 2001.
Fonte 2: Margarete Solange. Fazenda Solidão. Santos  Editora, 2001.
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terça-feira, 13 de abril de 2010

Sorteio- Mande sua cartinha

Quer ganhar o livro Inventor de Poesia Infantil: Fantoches e Poesia da autora Margarete Solange?


Então escreva até 30 de Abril uma mensagem dizendo por quê você deseja ganhar esse livro.


Envie seu e-mail para
Após o encerramento do sorteio o email foi retirado 
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Uma comisão irá sortear três cartinhas que serão contempladas com o livro solicitado.
O resultado será notificado através do e-mail. Então os autores das três cartinhas selecionadas poderão informar o endereço para o qual o livro será enviado.
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Podem participar deste sorteio pessoas de todas as idades de qualquer parte do Brasil.
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Para obter informações sobre o Livro Inventor de Poesia infantil, e conhecer um pouco do seu conteúdo veja nesse blog, nos arquivos de março, as seguintes seções:
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Inventor de Poesia infantil: lançamento
Prefácio da professora Midiã Borges
e Comentários das crianças sobre o livro Inventor de Poesia infantil
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Veja também algumas poesias do livro Inventor de Poesia infantil nas seções:
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Tal e qual a Criança
A Orquestra da Floresta
Poesia musicada pela autora para apresentação de fantoches
Menino Gordinho
O Virador e o Labralata
Guarda Chuva
Meek e Eu

Rex Vida boa
Adormecida
E A Patinha Esquisitinha.
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Participe: se por algum motivo você não tem interesse em ganhar esse livro, divulgue essa mensagem para alguém que tem. O importante é participar.
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domingo, 11 de abril de 2010

A ORQUESTRA DA FLORESTA - Poesia Infantil

Margarete Solange
 Ilustração de Jorge Davi
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O macaco peralta salta, salta
Está contente.
Seu amigo chimpanzé
Bate com as mãos, bate com pé,
E a bicharada animada,
Ensaia a orquestra da floresta.
A girafa tão alta tranquila desfila,
E a onça-pintada vaidosa
Sentada, observa a hiena
Que dá gargalhadas
Zombando da zebra
Que tão descuidada
Vestiu o macacão
Com uma listra errada.
De repente, o elefante
Ergue a tromba triunfante
Dá o tom no seu trompete,
E a passarada empoleirada
Toca flauta,
O porco-espinho,
O cavaquinho,
E o urso panda, o violão.
O rinoceronte grandão
Se balança de emoção,
Por fim, vem o leão
Que treina o rugido,
Caprichando o vozeirão.
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*      *     *
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Fonte: 
Margarete Solange. 
Inventor de poesia infantil: 
fantoches e poesias
Queima-Bucha, 2010, p 24
Ilustrações de Jorge Davi 


NA VIDA E NA MORTE

Conto de Margarete Solange


Todos têm ciência de que velório é um ambiente sério. Aliás, seriíssimo. A família, tremendamente abalada, fica assim como quem sonha. É de cortar o coração quando os vemos contemplando, incrédulos, o corpo inerte de um ente querido. Até quem não é da família se emociona, e chora. Alguns até exageram na hora de mostrar compaixão. Sim, porque, às vezes, nem conhecem o morto; mesmo assim, choram copiosamente e, às vezes, até passam mal.
Bartolo tinha sessenta anos quando morreu. Possuía um coração generoso. Adorava estar entre os amigos, divertindo-se, contando e ouvindo piadas. Rir é um excelente remédio, dizia ele, para qualquer tipo de doença, e em especial para evitar a depressão. Era repentista dos bons. Gostava de festas e evitava se apresentar em enterros. Dizem que era porque temia não saber se comportar. Era do tipo que falava alto e gargalhava à toa.
Não o conheci pessoalmente, porém sabia muito sobre ele, porque Bárbara, minha amiga, tratava de me contar tudo que o velhote engraçado aprontava. Dizia-me que o tal Bartolo era incrível. Fazia caras engraçadíssimas e dava risadas extravagantes, daquelas que ficam ecoando nos ouvidos por um longo tempo. As pessoas riam só de ouvir-lhe as gargalhadas.
Alguns o achavam muito parecido com o personagem Frankenstein, por causa do rosto completamente marcado pelas cicatrizes que adquiriu num acidente do qual foi vítima quando era ainda jovem. Ele, com muito senso de humor, tirava proveito de sua feiura: ser parecido com Frankenstein era, para ele, uma grande honra.
Desejei muito conhecê-lo. Eu e Bárbara fazíamos planos para irmos juntas passar um final de semana na casa de praia de Bartolo. Ela já tinha ido várias vezes, porém, para mim, as oportunidades foram passando, até que, por fim, minha amiga trouxe-me a triste notícia de que ele havia falecido.
Era uma segunda-feira. Tínhamos combinado de nos encontrar na biblioteca às sete da noite. Estava em nosso cantinho favorito, que era em uma mesa que ficava junto da janela de vidro, de onde podíamos contemplar algumas árvores lá fora. Essa visão dava-nos uma sensação de paz e tranquilidade.
Quando cheguei ao nosso cantinho, percebi que já estava ocupado por um devorador de livros. Pedi licença e sentei-me. Pensei comigo mesma: “Se o ‘intelectual’ se sentir incomodado, então, que se retire.”
Algum tempo depois, Bárbara surge, vindo em minha direção. Sentou-se já se segurando para não rir. Tinha que se comportar decentemente, afinal, além de estarmos numa biblioteca, tínhamos companhia em nossa mesinha.
– Quem é esse ocludão? – perguntou-me baixinho, referindo-se ao rapaz que lia sentado do outro lado da mesa. Era míope, coitado! Por isso usava uns óculos meio grandes de lentes bem grossas.
– Não sei. Já estava aí quando cheguei.
– Tenho uma pra te contar... – continuou falando baixinho.
– Então conta logo...                                                       
– Quando a gente sair daqui eu conto... Aqui não dá, senão vou rir... Quase morri de rir ontem à noite... Lembra de Bartolo?
– Bartolo?
– Frank, o repentista...
– Sim.
– Morreu! – desatou a rir, e eu também. O cara que dividia a mesa conosco levantou o livro de maneira que não pudéssemos ver seu rosto.
– Morreu de quê?
– Foi um enfarto fulminante... – não conseguia estancar o riso. – Depois eu conto – tapou a boca com uma das mãos.
Olhei para o rapaz à nossa frente. Ele ainda escondia o rosto atrás do livrão que tentava ler. Voltei-me para Bárbara, que estava vermelha de tanto rir. Achei que se tratava de mais uma de suas gracinhas, e estava ansiosa para saber o que tinha para me contar.
– Vai. Conta logo essa sua piadinha.
– Não é piada não... Quando lhe contar, você vai entender por que estou rindo.
– Então conta logo... – sussurrei.
– Aqui não, senão vai atrapalhar o rapaz que está estudando... – disse elevando a voz com o propósito de chamar a atenção do “ocludão".
– Por mim, tudo bem – apressou-se em falar o estudante – estou somente preenchendo o tempo, não tenho mais aula... Moro no interior e meu ônibus só sai às dez e vinte.
– Então tá. Vou tentar falar baixinho... Que curso você faz?
– Ciência da Computação. E vocês?
– Direito... Dá pra acreditar? – nem esperou resposta, voltou-se em minha direção e começou a falar.
Rapidamente esqueceu-se de que prometera falar baixo e prosseguiu contando-me detalhadamente tudo que viu e ouviu durante o velório de Bartolo.
Logo que recebeu a notícia, ficou tremendamente abalada. Queria chorar, mas não conseguia. O pranto estava preso, e isso lhe fazia um mal terrível.
Eram oito horas da noite do domingo quando lhe disseram que o corpo havia chegado. Saiu de casa levando a sobrinha de quatorze anos em sua companhia. Precisava ver para poder crer que Bartolo realmente havia morrido. Era inacreditável, afinal, ele nunca se queixava de doença alguma.
Era difícil imaginar Bartolo bem comportado, sem fazer nenhuma palhaçada. Ele jamais ficava quieto. Até dormindo era espalhafatoso: dava pernadas, falava, roncava alto e fazia outras coisas mais. Aquelas coisas que as mulheres não comentam para não perder a elegância.
Bárbara tinha esperanças de que tudo não passava de um terrível engano.
O velório aconteceu na própria residência de Bartolo. Não se sabe ao certo o motivo, mas dizem que a viúva não permitiu, de modo algum, que levassem o corpo para ser velado em outro lugar.
O pátio em volta da casa estava cheio de pessoas. Bartolo era muito querido, tinha muitos amigos. Bárbara acenou para alguns conhecidos e prosseguiu em direção à entrada da residência. A sala principal, grande e espaçosa, tornara-se pequena para abrigar a multidão que queria chegar perto do morto.
Vendo que havia muita gente em volta do esquife, a sobrinha de Bárbara desistiu de entrar e acomodou-se na varanda. Minha amiga, com paciência exemplar, conseguiu chegar perto do defunto. Disse que Bartolo nem parecia estar morto, tampouco dormindo. Parecia um ator representando numa péssima atuação. Os olhos estavam entreabertos, ao passo que os lábios ameaçavam rir a qualquer momento.
Repentinamente, surgiram rumores de que o morto poderia estar vivo. Alguém disse que o viu respirar. Uma senhora comentou baixinho que o sorriso se abrira um pouco mais. Os familiares recusavam-se a ouvir esse tipo de comentário, não queriam alimentar falsas esperanças. Certamente gostariam que o querido Bartolo estivesse vivo, porém, embora o socorro tivesse sido imediato, os médicos nada puderam fazer por ele. O enfarto fora fulminante. Tinham que se conformar com aquela fatalidade.
Minha amiga pôs-se a observá-lo com cuidado. Queria conferir, por si mesma, se aqueles rumores tinham algum fundamento. Sentiu-se na obrigação de salvar Bartolo, caso ainda houvesse alguma esperança. Vez por outra, lembrava-se das piadas que ele contava e, então, segurava-se para não dar risadas. Se olhasse para a cara dele, então, aí era que a vontade de rir aumentava. Colocava a mão sobre a boca e fingia chorar. Não chorava de verdade, porque não conseguia. Essa tensão estava provocando um terrível cansaço nas pernas e uma tremenda dor de cabeça.
Ela corria os olhos pelo recinto, alguns cochichavam. As poucas pessoas que choravam cobriam o rosto com um lenço ou com as mãos. Isso fazia Bárbara suspeitar que estavam lembrando das piadas de Bartolo e fingiam chorar para abafar o riso.
Fazia muito calor por causa da multidão e das velas que queimavam em derredor do defunto.
Deveriam ser umas dez ou dez e meia quando surgiu na sala uma moça que, segundo Bárbara, deveria ter uns vinte e quatro anos. Estava elegantemente vestida de preto e era um tipo bastante atraente. Os olhos denunciavam que já havia chorado bastante. Todos os olhares se dirigiram para ela. Imaginando ser alguém da família, as pessoas recuaram, abrindo o caminho para que ela pudesse se aproximar do esquife. Logo que pôs os olhos sobre o morto, deu um soluço sentido, e tombou no chão.
Um rapaz que correu para acudi-la derrubou a tampa do caixão, e o barulho das duas quedas causou um grande rebuliço. Minha amiga Bárbara, para não ser pisoteada por aqueles que desajeitadamente queriam sair da sala, esquivou-se na parede e, com isso, pressionou o interruptor, fazendo as luzes se apagarem.
A confusão foi geral. Do lado de fora alguém gritou:
– O morto ressuscitou! O morto ressuscitou!
Quem estava dentro queria sair por medo do escuro, quem estava do lado de fora queria entrar para ver Bartolo ressurreto.
Uma voz feminina gritou:
– Rápido, gente, tira ele do caixão para ele não ficar traumatizado...
A sobrinha de Bárbara disse que uma senhora, que não conseguia entrar por causa dos que se acotovelavam tentando sair, perguntava com voz bastante emocionada:
– Ele está sentado? Ele está sentado? Como é que ele está?
Ao seu lado a filha, puxando-lhe o braço, repetia:
– Foi pilepsia, mainha, foi pilepsia.
Bárbara teve um ataque de riso. Começou a gargalhar bem alto, e isso fez o povo ficar mais apavorado ainda. Alguém saiu da sala gritando:
– A moça que desmaiou ficou louca e está rindo sem parar.
Um dos presentes, percebendo que somente a sala do velório estava escura, alcançou o interruptor e acendeu as luzes. Minha amiga, então, teve que segurar o riso e fingir que chorava.
A confusão continuou. Crianças choravam, pessoas corriam, objetos caíam.
Foi aí que uma juíza aposentada, amiga da família, resolveu tentar pôr ordem no recinto. Bateu as mãos para chamar a atenção do povo. O tumulto cessou imediatamente.
– Calma pessoal. Respeitem o morto!
Quando viu que o povo a ouvia com atenção, empolgou-se e fez a maior pose de político que discursa para seus eleitores. A dentadura frouxa da velhota ameaçou cair, mesmo assim continuou falando. A dentadura despencou. Com gesto rápido, a juíza estendeu a mão para agarrá-la, antes que caísse dentro do caixão de Bartolo.
A crise de riso voltou. Então, Bárbara simulou um tropeção e apagou novamente as luzes para que as pessoas não percebessem que era ela a dona das risadas extravagantes.  Assim que o tumulto voltou, acendeu a luz e correu em direção ao banheiro. Riu até que o riso deu lugar ao pranto. Ficou com a barriga completamente dolorida de tanto rir.
A juíza conseguiu novamente acalmar a multidão. Se a dentadura tentou escapar novamente de sua boca, Bárbara não soube dizer, porque estava trancada no banheiro, chorando após uma tremenda crise de riso.
Um longo tempo depois, saiu do seu esconderijo e seguiu em direção à cozinha, a fim de beber um pouco de água. Em cada canto da casa havia grupinhos cochichando, até sobre o que não tinha acontecido.
Todos queriam saber quem era a bela moça que havia desmaiado ao contemplar o rosto do defunto. Uns aos outros perguntavam, porém nenhum dos presentes a conhecia. Surgiram muitos palpites acerca de sua identidade. Todavia, a certeza ninguém jamais terá, visto que, quando tudo se aquietou, a jovem misteriosa e o rapaz que a socorreu tinham desaparecido.
Por causa dessa tão grande confusão, a família ficou ainda mais fragilizada.
– Quem já se viu bagunçarem um velório dessa maneira? – desabafou a viúva entre soluços.
De volta à sala onde o morto jazia, deu uma paradinha em frente ao esquife para dar o último adeus ao amigo. Ele estava tranquilo, com o mesmo sorriso debochado nos lábios. Parecia o mesmo Bartolo de sempre. Bárbara esboçou um leve sorriso e acenou discretamente para ele, como se quisesse dizer “Tchau, Frank, seu velório foi muito divertido”...
Pois é, esta é a história que minha amiga me contou. Depois disso, ela resolveu levar muito a sério a filosofia de vida defendida por Bartolo. Acostumou-se a dizer que rir é um excelente remédio, e transforma tudo em comédia.
Semana passada, estávamos novamente na biblioteca. Enquanto eu terminava uma pesquisa, ela, muito concentrada, lia um jornal. De repente, encerrou a leitura e dirigiu-me a palavra com cara de surpresa e pesar:
– Não dá pra acreditar... Estou chocada... João Patrício morreu... que coisa horrível... seu fusquinha foi completamente esmagado por uma carreta...
– João Patrício?... Quem é esse tal de João Patrício? – indaguei curiosa.
– Sei lá. Só sei que estou chocada com a morte dele. Por quê? Não posso? – deixou escapar uma sonora gargalhada.
 Pretendia dar-lhe uma bronca, não consegui. Só de olhar para a cara dela eu desatava a rir.
As pessoas que estavam na biblioteca nos olhavam com ar de reprovação, o que aumentava ainda mais nossa vontade de rir. Tentando nos comportar, evitávamos olhar uma para outra. Nesse instante, surge Garibalde, o “ocludão, aquele que dividiu conosco a mesa no dia em que Bárbara me contou sobre a morte de Bartolo. Pois é, fizemos amizade com ele e descobrimos, naquela mesma noite, que ele também é metido a engraçadinho. Aproximou-se de nossa mesa e, com cara de comediante, perguntou:
– E aí, estão rindo por quê, morreu mais alguém?


Fotografia de Felipe Galdino
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Fonte: Margarete Solange. 
Ninguém é Feliz sem Problemas*
Fundação Vingt-un Rosado, 2009.
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* Obra premiada no concurso literário
escritor Norte-riograndense: 
Projeto Rota Batida III. Fundação Vingt-un Rosado.
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SOMBRAS - Poesia

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Entre as poesias do livro Um Chão Maior, Sombras é uma das mais citadas e recitadas por jovens e adolescentes românticos. Por que será?


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Sombras
Margarete Solange .....................
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Quando a lua está cheia, lembra-me você
E isso me faz muito triste.
Não sei explicar por que está nos meus sonhos,
Nem por que entrou em minha vida.
Às vezes tento odiá-lo, porém não consigo.
Você é como um fantasma,
Tento matá-lo e penso que está morto,
Mas um fantasma não morre
Nem se torna real...
Fantasma mau!...
Assusta-me e foge tão depressa
Que quando abro os olhos
Já não está junto a mim.
Minha sombra, meu lamento...
Lado ruim de mim mesma
Que não se encaixa em lugar nenhum.
Não entre mais nos meus sonhos,
Não invada os meus pensamentos.
Não há lugar para você em minha vida,
Sua presença escurece os meus dias.
Você é a noite sem luar,
Mas a lua cheia me faz lembrar de você...
E não posso explicar por quê.
Um dia vou despertar e perceber
Que o pesadelo acabou
E quando eu o encontrar casualmente pelas ruas,
As sombras não me importunarão mais,
Não mais...
Você será apenas um homem como qualquer outro
E eu estarei livre de seu fantasma
Para sempre.

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*     *      *
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Fontes:  Margarete Solange.Um Chão Maior. Santos Editora, 2001.
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Fonte: Margarete Solange. Inventor de Poesia: Versos Líricos
           Queima-Bucha, 2010.


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"Atire a primeira pedra aquele que nunca teve um fantasma rondando em sua vida".
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Ou que tal dizer diferente? Algo como: atirem um montão de pedras naquele que nunca teve um fantasma rondando em sua vida.
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sexta-feira, 9 de abril de 2010

VIDA E OBRA - Poesia


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.
Vida e Obra

Margarete Solange ....................
.
Amanhece...
A cidade cresce
E eu dentro dela me levanto.
Trabalho esculpindo poesias,
Aparando as arestas,
Lapidando aqui e ali...

Dizem que sou melhor criando em prosa,
Também acho que sim...
.
Entardece.
O sol declina e anuncia
Que o tempo avança,
Não espera por quem ficou para trás.
Pessoas voltam do trabalho, têm pressa,
Não se importam com a pintura do céu.
.
Sigo pelas ruas,
Mentalmente faço versos,
Crio personagens...
Para quê?
.
Para onde caminha a cidade?
Para onde correm os dias,
Todos os sóis,
Todos nós...
.
Um dia o que dirão sobre a cidade,
Sobre o sol...
Sobre estes versos e aquela que os criou?
Para onde vai a imagem
Que agora contemplo no espelho?
Emudecerá e retornará ao pó?
Sim...
A menos que se torne imortal!
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Na poesia acima a autora diz: “dizem que sou melhor criando em prosa, também acho que sim...” Curiosamente isso se confirma no resultado da enquete que trazia a seguinte pergunta: “Em qual das categorias as obras de Margarete Solange lhe agradam mais?”
Com 87% dos votos venceu a categoria Romance. Em segundo lugar, com 75% dos votos, ficou a categoria contos e, em terceiro lugar, a categoria poesia com 68% dos votos. Obrigada a quem participou da enquete e VOTE SEMPRE!
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Fonte: Margarete Solange. Um Chão Maior.
 Santos Editora, 2001.
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Fotografias de Jorge Luiz e Irak Xavier.
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