Em 1997 essa obra foi publicada de maneira meio caseira. A autora e seu marido confeccionaram alguns exemplares com a ajuda do computador e distribuíram entre parentes, amigos e também na biblioteca de uma escola pública na qual a autora tralhava na época.
Vejamos as capas que mostram o antes e o agora.
O romance se divide em duas fases. Na primeira, a narradora Marisca inicia com um pincelada na infância e então no terceiro capitulo já entra na adolescência. E ai muita coisa acontece nesse período em que as meninas, estão decobrindo o amor, elas se apaixonam, são correspondidas ou não e por ai vai. Até a metade da obra o cenário é composto pelos sítios e pela Casa Grande da família paterna, num lugarejo chamado Jardim das Vagens no qual não há sequer energia elétrica. Na segunda parte da história, todo mundo ficou adulto, então, acontecem as reviravoltas e grandes emoções que, claro, não vou contar para não estragar o prazer de suas descobertas na hora da leitura.
Bom, agora, para você se interessar ou se desinteressar de vez pela obra, aí vai o resumo que consta na capa do livro....
Marina e Marisca, duas meninas apaixonadas por leitura e pelo contato com a natureza. Felizes, brincam soltas pelos sítios que pertencem às suas tias, nos derredores da querida Casa Grande em Jardim das Vargens. Marisca, atrapalhada e dotada de imaginação fértil, confunde a realidade com o mundo dos livros. Espiona, às escondidas, os encontros de Marina e Stony, desaprova amizade da irmã com o solitário pintor. Tenta, de todas as maneiras sondar que tipos de pensamentos e sentimentos se escondem no íntimo da sensível Marina e do misterioso rapaz. Como não consegue compreender totalmente o envolvimento dos dois, inventa, dando sua própria interpretação, a partir daquilo que vê, ouve e ler no caderninho de páginas amarelas, no qual a irmã revela seus sentimentos. Acredita que pode protegê-la das ciladas preparadas pelo coração e assim atrapalha o romance dos dois com a missão de conduzi-la a um destino melhor. Na fase adulta, torna-se jornalista e escritora; então resolve juntar tudo o que leu, viu e ouviu para escrever um romance no qual Marina é a personagem principal. Narrando sobre a irmã, revela tudo o que sabe, todavia, falando de si mesma, omite detalhes importantes. Quanto aos sentimentos do solitário pintor, não há muito que revelar, uma vez que, como ela mesma costuma dizer em sua narrativa, “não se pode sondar o íntimo de um coração sem janelas”.
Algumas cenas ilustradas
Vamos dar também uma olhadinha em algumas cenas da obra através das ilustrações do artista Jorge Davi e de sua parceira de arte e outras coisas mais Roanny Phanuelly.
Para onde vai a criança que fomos um dia? Por acaso se perde no tempo?... morre?... se vai?... – Não. Está dentro de nós, até o fim de nossos dias. (p.84)
Para onde vai a criança que fomos um dia? Por acaso se perde no tempo?... morre?... se vai?... – Não. Está dentro de nós, até o fim de nossos dias. (p.84)
Ouvi falar que o seu Bastos havia sido mordido por um jumento e resolvi interrogá-lo sobre o incidente. Ele mostrou-me o braço direito que ficara bastante deformado a altura do antebraço e depois iniciou sua narrativa animado. (p.46)
Aproximou-se de mansinho e abraçou-a pela cintura. Apertou o seu rosto contra a cabeça de minha irmã. (p.69)
Ainda éramos muito parecidas. Tínhamos quase a mesma altura. O formato de nossos rostos não era muito diferente. Ela continuava magra. Eu tinha o corpo mais cheio e as pernas mais grossas e, como me elogiavam, dizendo que eram bem torneadas, decidi usar roupas curtas e sensuais. (p.105)
Sempre que estava por perto, visitava a Fazenda Coqueirais. O lugar era bonito e sossegado. (p. 111)
Desta vez sou eu quem vai inventar a história desse “chalé”... e vai ser um conto de terror, queridinha... prepare-se! (p.125)
Quando o dia clareou, adormeci ainda envolvida em minhas lembranças. Tinha impressão de que estava em um dos quartos da Casa Grande. Eram mais ou menos umas nove horas quando despertei com Marina ao meu lado, chamando pelo meu nome. (p.148)
Foi nessa época que escrevi o poema “O Silêncio das Lembranças”: (p. 175)
O Silêncio das Lembranças
poesia de Margarete Solange
Quando eu morrer, nada levarei comigo.
Nenhuma mágoa, nenhuma lágrima, nenhum sorriso.
As lembranças silenciarão para sempre.
As flores estarão murchas ao meu derredor.
O vento ousado que brincou com meus cabelos
Não beijará meus lábios outra vez.
.
O sol irá se pôr todos os dias
E eu não o verei mais...
Os pássaros pousarão sobre as paredes brancas
De minha sepultura fria,
E cantarão belas canções que não poderei ouvir.
.
Os que me amam hão de chorar, eu sei,
Mas em breve esquecerão meu rosto pálido
E debaixo do pó estarei sozinha, quieta,
Porque a areia não será capaz de me ouvir.
.
O silêncio me tomará em seus braços
E sussurrará aos meus ouvidos:
“Guardarei comigo o teu segredo para sempre”
Era uma noite fria de dezembro de 1982. Marina e eu conversávamos em seu quarto diante do espelho. (p.194)
Levantei-me e segui até a janela que dava para o pátio da frente da casa e como era noite, eu nada poderia contemplar, além das sombras. O vento frio que soprou os meus cabelos curtos e ruivos nesse instante pareceu ter levado com ele as lembranças que eu queria sepultar. (p.198)
A Fonte das Pedras Limosas era somente um lugar fantástico onde duas meninas brincavam de inventar histórias. Minha irmã, como toda escritora de talento, tem uma imaginação muito fértil: criou um personagem e me fez acreditar que ele era real. Pois é, os escritores são assim, usam suas palavras como se fossem varinhas mágicas que criam pessoas e mundos imaginários. Criam histórias e nos fazem acreditar nelas, e até vivê-las, como se entrássemos literalmente nas páginas de seu livro. A partir dos personagens de obras lidas, fazem recriações, e às suas novas criações misturam experiências vividas, roubando ou emprestando características de pessoas do mundo real que estão em sua volta. Marina sempre judiou de mim, testando o poder de suas histórias dramáticas. (p.200)
Custo acreditar que... (p. 202)
Trechinho do Prefácio
Ai está também um trechinho do prefácio do professor Francisco Batista Pereira...
"Dessa forma, a escritora cria um clima de tensão emocional tão elevado, quando acontecem os encontros e desencontros entre os dois, que, certamente, deixará o leitor ansioso por saber como terminará a relação entre eles, assim como aconteceu comigo."
Trechinho do Posfácio
Do mesmo modo que, ao lermos uma obra, podemos nos identificar com vários personagens, um único personagem pode ter sido baseado em diversas pessoas. [...]
É natural que o romancista busque nas pessoas da vida real ou em personagens de outros autores características para suas criações. Stony, Marina e Heitor, por exemplo, são baseados em Heathcliff, Catherine e Edgar, personagens do romance de Emily Brontë. [...]
Pois é, às vezes até desejamos dar um final diferente a nossas criaturas, porém, nem sempre depende de nós autores fazê-lo. Eu sinceramente não esperava que Marisca aprontasse tudo que ela aprontou. Por vezes, planejamos de um jeito, mas o personagem teima e faz de outro, completamente fora do planejado. [...] (p. 203-204)
Espero que minha matéria tenha contribuído para deixar você com muita vontade de ler essa obra.
Espero que minha matéria tenha contribuído para deixar você com muita vontade de ler essa obra.
Big beijo da Marina. UAU!
Para saber mais sobre a autora e obra acesse