por CHUMBO PINHEIRO*
Pesquisador
da literatura potiguar, Manoel Onofre Júnior em seu livro “Salvados”, 3ed.
2014, afirma; “Em toda a sua história literária o Rio Grande do Norte produziu
cerca de 40 bons ficcionistas. Este número contrasta com a abundância de
poetas”. Este importante registro sobre a literatura potiguar traz
explicitamente dois aspectos: primeiro o reconhecimento de uma larga, diversa e
rica produção poética que o próprio Onofre Junior identifica em sua obra
destacando nomes que fazem a história da poesia local em diferentes
temporalidades e contextos históricos. O segundo aspecto é o registro – apesar
de uma produção quantitativa pequena – de uma produção ficcionista no nosso
estado.
Esse parece ser um dos mais significativos
registros sobre a história da literatura potiguar. Ao reconhecer esta produção
literária de ficcionistas potiguares, sem desconsiderar também o trabalho de
outros pesquisadores, Onofre Júnior, promove não só o autor que já tem suas
obras publicadas mais provoca os escritores norte-rio-grandenses a uma reflexão
e mais ainda a uma inquietação.
De fato, o mundo dos leitores é ainda muito
reduzido por aqui e quando se inicia o processo de desenvolvimento da leitura
na maioria das vezes nossos leitores são apresentados, desde cedo, a autores e
clássicos de outros estados do país e best-sellers internacionais, deixando
quase ou mesmo no total esquecimento nossos autores.
Mas a existência de escritores locais inclusive com
projeção nacional como Homero Homem (1921-1991) e Nei Leandro de Castro, que continua
escrevendo, nos leva a crer que temos sim muito a crescer e a contribuir para o
fortalecimento da literatura ficcionista potiguar.
Recentemente em artigo publicado na Tribuna do
Norte (08/04/2015), Thiago Gonzaga, pesquisador, especialista em cultura e
literatura potiguar, registrava a deficiência da critica literária no nosso
estado, na coluna que se abriu como uma lacuna (perdoem-me a rima) que foi
deixada com a ausência das criticas literárias semanais de Nelson Patriota, que
até então publicava no jornal. Naquele mesmo artigo afirma Thiago Gonzaga
“Nunca se produziu tanta literatura como nos dias atuais no Rio Grande do
Norte”.
De fato, temos assistido a uma explosão sadia de
publicações literárias. Sabemos que, ainda assim, não somos, como demonstram as
pesquisas, um estado onde se registre um grande número de leitores. Contudo,
isso deve ser analisado através de estudos e investigações que aprofundem
vários fatores que influenciam nesta realidade, sejam, educacionais,
econômicos, culturais ou políticos.
O registro que aqui desejo fazer é do crescimento
da produção ficcionista potiguar. Como tem se revelado entre nós novos autores
e só para citar alguns: Aluísio Azevedo Junior, Carol Vasconcelos, Damião
Gomes, José de Castro...
Além destes nomes, chamo atenção para Margarete
Solange Moraes. Autora do livro “Fazenda Solidão” que chamou minha atenção já
pelo título, que me levou a lembrar do nome de um dos políticos mais
importantes na história do Rio Grande do Norte. A história, no entanto, não se
confunde com a ficção neste aspecto. O romance se desenvolve no campo e o
enredo embora não apresente nada que impressione o leitor, prende-o, pela
leveza da narrativa.
A história se passa entre duas fazendas e as
relações humanas vão se revelando e ganham uma relevância crucial. As
personagens expõem seus mais caros sentimentos, seus conflitos e seus dramas
familiares. É interessante a presença de um escritor como um dos protagonistas
da história. O detalhe é que esta personagem escreve pelo prazer cumprindo seu
papel sem buscar tornar-se famoso, por satisfação pessoal e a partir das
vivências, paisagens, angústias e celebrações que o cercam.
Certamente, há que se encontrar similitudes entre
os sentimentos da autora e suas personagens, como também entre os leitores ao
se verem refletidos nas aflições, sonhos e no dia a dia da vida doméstica,
social, política e que estão vivas em Cecília, Irene e Suzana, e entre Augusto
e o seu apego ao trabalho e ao dinheiro, também estará refletido na fantasia do
escritor recolhido e solitário e a filha herdeira de um rico fazendeiro e sua
vida prática onde todos os problemas eram resolvidos com o poder do dinheiro.
Fantasias tão díspares mas que talvez por essa razão se atraíram, se afinaram,
unindo mentes tão diferentes para construir uma felicidade que se conquista a
cada novo alvorecer e que nenhum valor monetário pode comprar.
Margarete Moraes traz em “Fazenda Solidão” uma
história que apesar de se passar no campo, não está presa ao passado e às
tradições do espaço/tempo. Os dramas e inquietações da vida moderna estão
presentes, e, mesmo o comportamento do escritor Rodrigo que prefere usar uma
máquina de datilografia elétrica a um computador, o faz para manter uma relação
mais próxima das suas viagens mentais e sentimentais pela paisagem da fazenda e
melhor sentir com a sua amada dádiva o nascer e o por do sol, as noites e todas
as suas luas sempre presentes, além do amor a sua esposa.
Ao leitor e leitoras potiguares, o romance de
Margarete Moraes traz estados de alma, sentimentos e dramas que vistos com seu
olhar parecem nos afetar sem nos causar o desespero dos que não têm fé e
perceber que mesmo nos momentos mais difíceis, o amor, a solidariedade e a
compreensão são sempre a melhor decisão.
Artigo publicado em 15 de setembro de 2015, no site
101livrosdorn.blogspot.com
** Articulista, autor de “Alguns
Livros Potiguares" (CJA Edições 2014)
Fazenda Solidão, 2ª ed
Margarete Solange
Sarau das Letras
Mossoró, RN, 2005,
220 páginas,
ISBN: 978-85-5518-006-4
Literatura Brasileira