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sábado, 19 de setembro de 2015

NA SOLIDÃO DA FAZENDA

 por  CHUMBO PINHEIRO*

Pesquisador da literatura potiguar, Manoel Onofre Júnior em seu livro “Salvados”, 3ed. 2014, afirma; “Em toda a sua história literária o Rio Grande do Norte produziu cerca de 40 bons ficcionistas. Este número contrasta com a abundância de poetas”. Este importante registro sobre a literatura potiguar traz explicitamente dois aspectos: primeiro o reconhecimento de uma larga, diversa e rica produção poética que o próprio Onofre Junior identifica em sua obra destacando nomes que fazem a história da poesia local em diferentes temporalidades e contextos históricos. O segundo aspecto é o registro – apesar de uma produção quantitativa pequena – de uma produção ficcionista no nosso estado.
Esse parece ser um dos mais significativos registros sobre a história da literatura potiguar. Ao reconhecer esta produção literária de ficcionistas potiguares, sem desconsiderar também o trabalho de outros pesquisadores, Onofre Júnior, promove não só o autor que já tem suas obras publicadas mais provoca os escritores norte-rio-grandenses a uma reflexão e mais ainda a uma inquietação.
De fato, o mundo dos leitores é ainda muito reduzido por aqui e quando se inicia o processo de desenvolvimento da leitura na maioria das vezes nossos leitores são apresentados, desde cedo, a autores e clássicos de outros estados do país e best-sellers internacionais, deixando quase ou mesmo no total esquecimento nossos autores.
Mas a existência de escritores locais inclusive com projeção nacional como Homero Homem (1921-1991) e Nei Leandro de Castro, que continua escrevendo, nos leva a crer que temos sim muito a crescer e a contribuir para o fortalecimento da literatura ficcionista potiguar.
Recentemente em artigo publicado na Tribuna do Norte (08/04/2015), Thiago Gonzaga, pesquisador, especialista em cultura e literatura potiguar, registrava a deficiência da critica literária no nosso estado, na coluna que se abriu como uma lacuna (perdoem-me a rima) que foi deixada com a ausência das criticas literárias semanais de Nelson Patriota, que até então publicava no jornal.  Naquele mesmo artigo afirma Thiago Gonzaga “Nunca se produziu tanta literatura como nos dias atuais no Rio Grande do Norte”.
De fato, temos assistido a uma explosão sadia de publicações literárias. Sabemos que, ainda assim, não somos, como demonstram as pesquisas, um estado onde se registre um grande número de leitores. Contudo, isso deve ser analisado através de estudos e investigações que  aprofundem vários fatores que influenciam nesta realidade, sejam, educacionais, econômicos, culturais ou políticos.
O registro que aqui desejo fazer é do crescimento da produção ficcionista potiguar. Como tem se revelado entre nós novos autores e só para citar alguns: Aluísio Azevedo Junior, Carol Vasconcelos, Damião Gomes, José de Castro...
Além destes nomes, chamo atenção para Margarete Solange Moraes. Autora do livro “Fazenda Solidão” que chamou minha atenção já pelo título, que me levou a lembrar do nome de um dos políticos mais importantes na história do Rio Grande do Norte. A história, no entanto, não se confunde com a ficção neste aspecto. O romance se desenvolve no campo e o enredo embora não apresente nada que impressione o leitor, prende-o, pela leveza da narrativa.
A história se passa entre duas fazendas e as relações humanas vão se revelando e ganham uma relevância crucial.  As personagens expõem seus mais caros sentimentos, seus conflitos e seus dramas familiares. É interessante a presença de um escritor como um dos protagonistas da história. O detalhe é que esta personagem escreve pelo prazer cumprindo seu papel sem buscar tornar-se famoso, por satisfação pessoal e a partir das vivências, paisagens, angústias e celebrações que o cercam.
Certamente, há que se encontrar similitudes entre os sentimentos da autora e suas personagens, como também entre os leitores ao se verem refletidos nas aflições, sonhos e no dia a dia da vida doméstica, social, política e que estão vivas em Cecília, Irene e Suzana, e entre Augusto e o seu apego ao trabalho e ao dinheiro, também estará refletido na fantasia do escritor recolhido e solitário e a filha herdeira de um rico fazendeiro e sua vida prática onde todos os problemas eram resolvidos com o poder do dinheiro. Fantasias tão díspares mas que talvez por essa razão se atraíram, se afinaram, unindo mentes tão diferentes para construir uma felicidade que se conquista a cada novo alvorecer e que nenhum valor monetário pode comprar.
Margarete Moraes traz em “Fazenda Solidão” uma história que apesar de se passar no campo, não está presa ao passado e às tradições do espaço/tempo. Os dramas e inquietações da vida moderna estão presentes, e, mesmo o comportamento do escritor Rodrigo que prefere usar uma máquina de datilografia elétrica a um computador, o faz para manter uma relação mais próxima das suas viagens mentais e sentimentais pela paisagem da fazenda e melhor sentir com a sua amada dádiva o nascer e o por do sol, as noites e todas as suas luas sempre presentes, além do amor a sua esposa.
Ao leitor e leitoras potiguares, o romance de Margarete Moraes traz estados de alma, sentimentos e dramas que vistos com seu olhar parecem nos afetar sem nos causar o desespero dos que não têm fé e perceber que mesmo nos momentos mais difíceis, o amor, a solidariedade e a compreensão são sempre a melhor decisão.


Artigo publicado em 15 de setembro de 2015, no site
101livrosdorn.blogspot.com

** Articulista, autor de “Alguns Livros Potiguares" (CJA Edições 2014)



Fazenda Solidão, 2ª ed
Margarete Solange
Sarau das Letras
Mossoró, RN, 2005, 
220 páginas,  
ISBN: 978-85-5518-006-4
Literatura Brasileira

PROJETO "EU LEIO E VOCÊ ME ESCUTA"

ESCOLA SÃO JUDAS TADEU, 
MINAS GERAIS
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O projeto "Eu leio e você me escuta" iniciado em março de 2015, segue seu curso sendo bem sucedido na tarefa de despertar a curiosidade e o interesse de jovens estudantes para ler por prazer. Este projeto foi idealizado pelo especialista em Educação Básica, Ismael Lopes, a partir do diagnóstico de que os alunos da Escola São Judas Tadeu (MG) tinham dificuldades de leitura e interpretação. Para realização do projeto foi preciso primeiramente aumentar o acervo da pequena biblioteca da escola. Para isso Ismael e demais pessoas envolvidas no projeto conseguiram doações de livros. Entre os parceiros doadores, a escola contou com o apoio da escritora Margarete Solange, de Natal, RN, que além de livros de sua autoria, doou também exemplares de clássicos da literatura brasileira. Dessa forma, conseguiram que os alunos tivessem acesso a leitura de poesias, crônicas, contos e romances. O bibliotecário se encarrega de emprestar os livros e se prontifica a ouvir os recontos feitos pelos alunos. Além disso, junto com os professores desenvolve uma série de atividades de leitura que acontecem não somente em sala de aula e na biblioteca, mas também no pátio da escola e até mesmo na praça do povoado. Além das muitas atividades desenvolvidas internamente, os leitores pode escolher o livro que deseja ler em casa; ao termino da leitura reconta a obra lida. Portanto, o projeto avança e já recolhe os bons frutos de uma colcheta que começa na escola e salta para toda a vida. 
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Informações e Fotografias 
Enviadas por Ismael Lopes (MG)