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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

CHÁ LITERÁRIO

A noite do dia 30 de setembro foi de muita festa para a Escola Estadual São Judas Tadeu (MG), que conta atualmente com 100 alunos. Sob o cuidado e organização do Especialista de Educação Básica, Ismael Lopes, a vice diretora, Fabiane Oliveira e demais profissionais da área de Linguagem foi realizado o II Chá Literário da escola, que contou com presença expressiva de alunos e funcionários. O evento teve por objetivo fomentar e socializar a apreciação literária e artística de modo geral, englobando diversas disciplinas, passando pelo português, inglês, história e envolvendo até mesmo a matemática.
O trabalho de preparação para o Chá Literário ocorreu durante o terceiro bimestre com os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. A leitura nunca é demais e a escola foi palco deste universo fascinante, embalado por poemas de Marilene Godinho, Margarete Solange e Cecília Meireles, todos declamados por alunos. Para dar início a extensa programação houve a execução do Hino Nacional Brasileiro, apresentação de danças, além da peça teatral “ Sítio do Pica Pau Amarelo”. Foi sem dúvida um exemplo de superação das dificuldades, na esperança de sempre alcançar os objetivos almejados. Antes de finalizar a primeira etapa do evento, a diretora Gilma Antunes aproveitou a presença dos responsáveis e apresentou a equipe da escola, composta por professores e funcionários, promovendo maior interação entre a comunidade escolar. Após as apresentações, uma recepção completa, relembrando a tradição do chá com bolo ou biscoito e um bom livro por perto. A festa foi encerrada com gostosuras diversas apreciadas por todos os participantes, que garantiram o sucesso do evento. 
O projeto “Chá Literário” começou pela necessidade de um reforço da biblioteca e passou por todo um processo, anterior ao encerramento desta quarta-feira. Desejando ampliar e reforçar o acervo, veio a ideia da campanha para que doações de livros fossem feitas à escola e assim pudesse reforçar o hábito da leitura nas crianças.
De acordo com a diretora da escola, esta etapa finalizada é com certeza apenas uma primeira edição, pois o projeto foi muito bem recebido por todos, contando até mesmo com o apoio da escritora norteriograndense, Margarete Solange, que, além de suas obras, fez doações de livros de expressivos escritores da literatura brasileira. Gilma considera que valeu muito a pena o empenho de todos os professores, alunos e funcionários em conjunto. Todos se envolveram mesmo que não participando diretamente das apresentações, como o bibliotecário que ajudou nos ensaios das peças teatrais. Para ela a chegada de novos livros é sempre uma novidade boa e bem vinda, permitindo que os alunos tenham acesso a uma biblioteca mais estruturada. E por considerar a leitura um trabalho de suma importância, espera que a comunidade escolar continue empenhada nesta campanha. Graças ao bom número de doações, os resultados foram visíveis e os alunos estão lendo mais do liam que antes. A diretora Gilma espera contar com os novas doações de livros, afinal, a campanha não acabou. E finaliza parabenizando a todos pelo sucesso do projeto e pelos momentos agradáveis. 








 





Escola Estadual São Judas Tadeu,
Minas Gerais
Reportagem e fotografias enviadas por 
Ismael Lopes:
Especialista em Educação Básica



segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Uma Questão Delicada

conto de Margarete Solange
.
Antigamente, especialmente para as mulheres, o casamento era uma questão de honra. Algo assim como obter uma formatura. Não casar trazia vergonha para a interessada e para toda a família. A moça que não casava tornava-se motivo de inúmeras chacotas, era chamada de solteirona ou, ainda pior, ficava para titia, no caritó.
Felizmente, na pós-modernidade, casar já não é obrigatório, é facultativo, ou seja, casa quem quer. Todavia, tem coisa que foge à lógica. Por exemplo, no trabalho, quando dizem que é um dia facultativo, ninguém vai, mas mesmo o casamento sendo facultativo, todo mundo quer casar, principalmente as mulheres. Os homens, de maneira geral, não têm tanta pressa.
Pode-se dizer que, ao casar-se, a mulher passa a ter acúmulo de cargos e funções, porque torna-se esposa, dona de casa, depois mãe, patroa, dona de gato, de cachorro, de papagaio, de periquito, além de tornar-se responsável, direta ou indiretamente, pela supervisão da atuação de baratas, pulgas, muriçocas e carrapatos.
A solteira pode viajar pelo mundo afora, se quiser, desde que tenha coragem e dinheiro, claro! E se não tiver gato ou cachorro, porque se tiver, é quase casada também. Quanto aos sobrinhos, não tem problema algum, porque estes acabam sendo devolvidos para as mães, se choram, urinam ou sujam as fraldas de outra maneira.
Viram só?! Hoje em dia ser tia é uma coisa boa. Quer dizer, quase boa, porque, diante do sobrinho, a tia não tem muita escolha. Tem que estar à disposição para tudo, ou quase tudo. Ainda assim, mesmo com toda a tecnologia e modernidade, algumas mulheres preferem ser mães a ser tias.
            Por algumas razões, às vezes é bem melhor ser tia do que ser mãe. A tia é mais disponível, tem emprego melhor, tem mais amigos, passeia mais e é mais livre para falar sobre qualquer assunto. Algumas mães acham que não podem conversar sobre certos temas, geralmente estão atarefadas e, à noite, algumas, para relaxar, assistem novelas. Assistir novela toma tempo... O tempo de passear, de conversar com amigos, e as tias sabem disso.
As tias se preocupam mais em arrumar-se, têm carro e dinheiro para ir ao shopping com as amigas e, por vezes, com os sobrinhos. Ser tia tem mais vantagens; contudo, em alguns momentos, os privilégios recaem mesmo é sobre a mãe. Por exemplo, não se comemora o dia nacional das tias. Além disso, se a criança faz uma pergunta sobre um assunto considerado delicado, a mãe simplesmente arranja uma desculpa e se isenta de responder. Se a criança insiste, ela se zanga e até faz ameaças. A tia não pode agir desse modo, tem que dar um jeito, porque ser tia é uma espécie de profissão. Se porventura a criança satura a mãe com diversas perguntas, desejando saber significados e porquês, a tia, querendo ou não, acaba entrando na história. Aí, ela, que não é boba nem nada, pede ajuda ao dicionário. É exatamente para isso que eles existem: para tirar dúvida, certo? Nem sempre!
O dicionário, como toda pessoa, tem suas virtudes e seus defeitos. Eles às vezes falam pouco ou não falam nada sobre aquilo que desejamos saber. Por exemplo, se é dito “as mulheres são avassaladoras”, e alguém não entendeu o que foi dito, vai ao dicionário. Ao invés desse nome, lá encontra a palavra “avassalador” com a seguinte definição: “que avassala”. Daí, a pobre criatura que não conhece a palavra fica na mesma. Isso acontece com muitas outras palavras. Para destrincharmos o significado de algumas, temos que ser insistentes e fazer um caminho bem logo até finalmente encontrar algo que realmente seja esclarecedor. O fato é que, ajudando ou atrapalhando, o dicionário está sempre presente nas nossas vidas. Portanto, examine-o bem antes de comprar. Existem aqueles que são muito bons, mas esses geralmente são os mais raros e os mais caros.
Uma coisa é certa: as tias terão a eterna obrigação de consultar o dicionário, para explicar aos sobrinhos um montão de coisas que eles não compreendem sozinhos. E isso pode ser em qualquer dia e a qualquer hora, porque a tia não tem horário fixo, não tem folga nem feriado, especialmente se ela e os sobrinhos moram debaixo do mesmo teto.
E por falar em sobrinhos, tenho vários. Todos são fofos: inteligentes e lindos! E o melhor de tudo é que já não sujam as fraldas. Mas ainda assim, mesmo crescidinhos, há sempre aqueles que estão por perto, desejando usar as tias para descobrir o significado daquilo que a mãe não quis esclarecer. E como já falei, o dicionário é como gente: às vezes ajuda, outras, atrapalha.
Agora veja lá essa que me aconteceu. Eu desfrutava prazerosamente um feriado prolongado, no qual estava feliz e realizada, simplesmente escondida atrás dum livro e mergulhada numa história que alguém criou, quando de repente, totalmente de repente, surge do meu lado uma voz infantil trazendo uma questão delicada que, com certeza, alguém antes de mim não quis responder.
Sem que percebesse, o feriado lamentavelmente chegou ao seu final. Sinceramente, não me agrada de modo algum aquele provérbio que diz “tudo que é bom dura pouco”. Decididamente, esse dito não deve constar em nossa cartilha.
O meu curioso sobrinho se aproximou e, sem se anunciar, assustou-me com sua presença e com a seguinte questão:
– Tia, me explique o que é orgasmo...
Bom, como já falei, essa coisa de olhar no dicionário o significado das palavras nem sempre dá certo. Às vezes, torna a coisa até mais complicada. Mas, tomando como base um trechinho do dicionário, a parte que diz “é o grau máximo de excitação”, dá para completar o resto com nossas próprias palavras.
Tratei de dizer para aquela criaturinha que “grau máximo de excitação” é uma coisa que traz uma sensação muito boa. Em seguida, expliquei-lhe que tive um grau máximo de excitação naquele feriadão de quatro dias, já que usei meu tempo inteirinho para fazer um montão de coisas que eram do meu próprio interesse – e isso, como dizem os adolescentes: “foi D+!!!!”
A família toda resolveu ir para a praia passar nada menos que quatro dias por lá. Como vivemos num mundo no qual roubar é até uma profissão, e os roubadores, principalmente num feriado prolongado, levam muito a sério o seu trabalho, alguém tem que ficar como vigia da própria casa. Eu prontamente me ofereci para isso. Fiquei porque sabia que dessa forma me pouparia de estresse e trabalho.
Todos partiram alegres e barulhentos. Eu não via a hora de dizer “divirtam-se, amores!” Sequer me preocupei em fazer cara de pesares porque tinha sido a sorteada para ficar. Quando se foram, comemorei. Enfim, sós!
Ai que alívio! Que “grau máximo de excitação” saber que tinha quatro dias para ser eu mesma, no silêncio de uma casa inteirinha só para mim, para eu fazer as coisas de que gostava sem ter que cumprir nenhuma obrigação.
Foi lindo! Pude ler e estudar à vontade, sem pedir silêncio, sem ter que interromper para cumprir horários, sem campainha nem telefone tocando. Além disso, eu só precisava sair da toca duas vezes por dia, para alimentar os meus cachorros com uma comidinha pronta, a qual não tinha sequer que esquentar. À noite, dedicava um pouco de tempo para esses meus amigos, que saltavam de alegria logo que eu me aproximava.
Tenho percebido que, para os cães de estimação, o lazer é mais importante que o alimento. Eles adoram a companhia de seu dono, seja para conversar, reclamar, gritar ou ficar apenas ao seu lado, sem dizer absolutamente NADA. Os cachorros amam simplesmente, e não há nesse amor nenhum jogo de interesses. Nada cobram, tampouco ficam cheios de queixas sobre o que seu dono faz ou deixa de fazer. 
– Nossa! Eles não são o máximo?!
Imagino que toda pessoa que já provou do amor incondicional de um cachorro, sente falta de tal devoção em seu dia a dia, até mesmo por parte daqueles que costumeiramente são considerados melhores amigos.
Toda mulher, seja mãe ou tia, precisa de mimos e de um tempinho de folga para cuidar de si. Quando estão felizes, elas conseguem ser pessoas meigas, como no íntimo elas realmente o são. Com base em minhas experiências de anos e anos de vida, como confidente e representante de uma multidão de mulheres insatisfeitas – donas de casas, esposas, mães, sogras, donas de cachorros e gatos, entre tantas outras – digo que um período de folga total assim é a melhor definição para a tal “excitação máxima” para a classe feminina. Especialmente para aquelas que são intelectuais e vivem do estudo e da leitura.
Todavia, esse grau de excitação máxima varia de pessoa para pessoa, isso vai depender da necessidade e do passatempo favorito de cada um. Existem aqueles que não precisam de silêncio, tampouco solidão. Nesse caso, o prazer desses é estar em lugares festivos, barulhentos, com muita gente e agitação.
Mas atenção, o prazer feminino varia de mulher para mulher, dependendo do ponto “G” de cada uma delas, ou seja, daquilo que elas realmente ‘G’ostam mais. Dessa forma, para algumas, o grau máximo de excitação significa ir às compras, ir à praia com os amigos, dirigir em alta velocidade xingando os marmanjos que fazem imprudências no trânsito, ou simplesmente ler um bom livro enquanto alguém está fazendo a faxina da casa no lugar dela. 
– Pois é, orgasmo é isso! Compreendeu, querido sobrinho?

















.Margarete Solange,Contos Reunidos,
Sarau das Letras,2014, p. 186-190