Crônica de Margarete Solange
Desde pequena eu queria agradar. Queria ser uma boa filha, boa aluna, melhor amiga de alguém. Esforçava-me para tirar notas altas e passar sempre em qualquer exame para o qual eu fosse submetida. Quando somos crianças e adolescentes, isso é mais fácil porque os critérios de avaliação obedecem uma lógica que poucos ousam violar, melhor dizendo, nessa fase da vida passar em exames depende de nós, de nosso esforço e dedicação. Não faltam elogios aos nossos feitos, então ficamos acostumados a ser louvados e achamos que somos capazes de conquistar tudo aquilo que queremos. Pensamos que podemos tudo. Quando crescemos, vemos um outro mundo, nos misturamos a estranhos, e a sobrevivência torna-se ainda mais complicada, algumas vezes nossos sonhos são castrados. Então, alguns de nós se tornam bichinhos acuados que atacam para se defender. Se continuarmos tentando agradar a todos nos sentimos confusos e frustrados porque isso é tarefa impossível. As pessoas querem nos moldar conforme o seu querer e suas necessidades. Não conseguimos ser tão elásticos assim. Não faz bem para nós mesmo desejarmos ser demasiadamente simpáticos, mesmo porque, nunca acham que somos, e passam a dar as nossas falhas um peso bem maior que aquele atribuído as nossas virtudes. Por vezes, aquilo que é qualidade e agrada a uns é detestável para outros, uns nos admiram, outros, talvez por inveja, não sei, nos antipatizam. Atraímos amigos e inimigos, mesmo quando não temos intenção de fazer nem uma coisa e nem outra. Estou na metade de minha vida e ainda sinto-me um tanto confusa na arte de entender as pessoas, além disso sinto-me tremendamente incompreendida. Todavia, creio que num ponto, tenho um pensamento acabado: todos temos nossas particularidades: umas que são dignas de elogios e outras consideradas chatices de algum modo. Isso, a meu ver, serve para qualquer tipo de pessoa, sejam elas tímidas: tranquilas e inofensivas, sejam brincalhonas: espalhafatosas de otimismo contagiante ou mesmo aquelas que se acham auto-suficientes: autoritárias e pensam que são melhores que as demais ou ainda os melancólicos que, geralmente, são donos de grandes talentos, e possuidores de temperamento instável que costuma variar de um extremo a outro. Li muito, observei muito, desapontei e fui desapontada para poder compreender que as coisas não são como queremos que sejam; é por isso que fazemos acepção de pessoas no momento de afunilarmos nossas amizades. Agora, que compreendo isso, já não quero me obrigar a mudar para agradar, prefiro que respeitem mais as minhas particularidades, meus limites. Hoje, já não ando mais a procura do amigo ideal, leal, embora sei que na velhice vou olhar para trás e ver que encontrei no curso de minha vida alguém que mereceu esse título, alguém que soube reconhecer as minhas virtudes e que me compreendeu apesar dos defeitos.
"Na velhice vou olhar para trás e ver que encontrei na vida alguém que mereceu esse título, alguém que soube reconhecer as minhas virtudes e que me compreendeu apesar dos defeitos". Margarete Solange, 2003
Margarete Solange escritora de crônicas, contos, romances e poesias, com sete obras publicadas, recebeu, em 2009, premiação no concurso literário, escritor Norte-riograndense, promovido pelo projeto Rota Batida III, com o livro de contos Ninguém é Feliz sem Problemas.
Que linda crônica!Estava conversando hoje com minha irmã sobre isso,não sei se tenho estrutura suficiente de esperar até a velhice para enteder dessa forma.Vou começar a refletir com a frase da escritora.
ResponderExcluir"Na velhice vou olhar para trás e ver que encontrei na vida alguém que mereceu esse título, alguém que soube reconhecer as minhas virtudes e que me compreendeu apesar dos defeitos". Margarete Solange, 2003
Parabéns Leon pela escolha da postagem.Adorei!
BrigadUUUU, Nadijane. Escolhi essa crônica porque achei que parecia com a poesia "Luar sobre a Savana” que foi postada anteriormente, então resolvi dá sequência ao tema. Brigadão pela sua maravilhosa participação. Big beijo do Leon... UAU!!!
ResponderExcluirLinda reflexão. Acho que ser compreendida é algo dificil. Tbm achei interessante e bem escrita a frase da autora que diz: "Na velhice vou olhar para trás e ver que encontrei na vida alguém que mereceu esse título, alguém que soube reconhecer as minhas virtudes e que me compreendeu apesar dos defeitos". Margarete Solange, 2003 LIndo isso!
ResponderExcluirCompreender é bom, mas ser compreendido é bom D+.
ResponderExcluirRealmente a crônica é muito bonita. É interessante é coisa do escritor botar tudo pra fora. Pela figura eu achei que a autora ia falar sobre cachorros, depois entendi que se tratava de pessoas. kkkkkkkkkkkk Achei incrível. No fim fala dos dois lados. porque a gente se decepciona muito com as pessoas não com os cachorros não.
ResponderExcluirCrônica belíssima. Parabéns pela obra Margarete. Impressionante como a gente se identifica quando a obra é bem escrita... Abraços
ResponderExcluirObrigada, querida. Também tenho me identificado com seus escritos. Parece que os escritores tem alma parecida. abraço.
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