poesia de Margarete Solange
Se algum dia por acaso eu morrer,
Não digam de mim que fui maravilhosa e sem defeitos.
Por favor, não me exaltem somente porque morri...
Obrigada pelas flores!
Flores são lindas e sempre bem-vindas.
Acho natural que muitos chorem
Em derredor de meu corpo inerte.
Entretanto, nada de exageros!
De uma coisa tenho certeza:
O pranto cessa e o riso volta ao seu lugar.
Alegro-me de que seja assim.
É difícil acostumar-me com o fato
De não mais participar da vida...
Não quero emudecer para sempre.
Por isso, tenho o hábito de registrar meus pensamentos.
Assim, se algum dia não mais puder falar,
Meus escritos falarão por mim.
Ponho-me a imaginar-me com rosto pálido,
Deitada, bem-comportada...
Não sei se combina com meu jeito impaciente de ser
Ficar sendo velada...
Nunca fui muito chegada a festas!
Fico sem jeito quando estou em meio a muita gente.
Para falar a verdade, não gosto de formalidades.
Temo até mesmo que, sendo imprevisível como sou,
Eu me canse de estar por muito tempo deitada
E desista da partida.
Porém, em histórias da vida real
Não é sempre que posso interferir,
Modificar, decidir.
Sou apenas uma personagem a mais,
Criada e dirigida pelo Onipotente Criador.
Bom, em todo caso, já que a Morte ainda não me encontrou,
Vou ficando por aqui.
Fontes: Margarete Solange.
Versos Líricos. Queima-bucha, 2010
e
Margarete Solange.
Um chão Maior.
Santos, 2001.
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