de Margarete Solange
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A natureza me fascina. Mesmo maltratada pelo homem, castigada pelo sol, torturada pela seca, é motivo para belas poesias.
O veículo avança velozmente, como se voltasse no tempo. Olho a paisagem em volta, é como se o passado estivesse dentro dela. Tudo é tão igual. A natureza não envelhece. Está tal e qual eu a via quando era criança.
A natureza é uma arte sem moldura, feita pelas mãos do Criador dos criadores. A terra seca, o sol causticante, o mato cinzento empoeirado; tudo isso me faz lembrar Poço-de-Pedras, o interior onde viveram os meus avós maternos. Um lugar perdido em meio a uma selva de galhos secos e pedras sem nenhum valor, mas que para mim e os meus irmãos pequenos eram verdadeiros tesouros, porque éramos inocentes e aquelas veredas de pedras arredondadas, de cores sem brilho eram belas para nós.
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A natureza faz-me lembrar algumas vidas humanas. O mato verde seria as pessoas privilegiadas. As serras inabitadas, isoladas ao longe, aqueles que não têm a companhia de ninguém ou que preferem ser solitários. As enormes pedras, estas são iguais aos que nada sentem porque são duros e insensíveis. – Ó pedregosos corações, quem pode compreender os teus sentimentos? O que pode brotar de teu chão pedregoso e resistir entre os teus espinhos? Como podes compreender os que te amam se és como as pedras? Todavia, conforta-me saber que as pedras podem ser transformadas pela água que insiste ao longo dos anos sem desistir jamais.
Há tragédias na natureza, como há nas vidas humanas, mas ela não maldiz os homens, nem tão pouco o seu Criador. Os galhos secos, quebrados, o rio seco, chão rachado... Tudo se transforma em belas poesias. Quando desce a chuva e outra vez renova as suas cores, ela sorri esquecida dos dias maus.
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Até que ponto os seres humanos são realmente humanos, se fazem tanto mal aos seus semelhantes? Destroem o mundo em que vivem e atribuem ao Criador a culpa do mal que fazem a si mesmos.
Se o tempo voltasse, como podemos voltar ao lugar de onde saímos um dia, eu voltaria e seria outra vez aquela criança inocente, que conversava com Deus quando estava sozinha, que chorava às escondidas e transformava as árvores em companheiras e confidentes dos meus problemas infantis...
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Os anos avançam velozmente, amanhã farei trinta e quatro anos.
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Texto escrito em 30 de Dezembro de 1995, foi enxertado no romance “O Silêncio das Lembranças", iniciado em 1995, concluído em 1997. Esta obra, embora ainda não tenha sido publicada por nenhuma editora, foi impressa pela autora e seu marido em formado de livro para ser emprestada entre os amigos e na biblioteca na qual a autora trabalhava no período de 1997 a 2005.
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A natureza é linda mesmo, assim como Deus que a criou.
ResponderExcluirLinda!Linda!Linda.
ResponderExcluirDefinida como nunca foi.Eu mesma já viajei e contemplando a natureza ficava pensando como poderia ser definida.
Do que falta a escritora falar?
tbm gostei da crônica, contemplar a natureza é muito bom e faz bem pra alma.
ResponderExcluirPS: tá na hora de publicar logo esse silêncio das lembranças vai fazer o maior sucesso!
Também gostaria muito que O SILÊNCIO DAS LEMBRANÇAS fosse logo publicado. E tu, heim, Rafa, que já lesse oito vezes. Que achas?
ResponderExcluirNem me fale Marina, o livro deve ser urgentemente publicado. Li oito vezes e leio qntas vezes eu puder, pois o livro é bom demais!
ResponderExcluirnossa Margarete, quanto talento nessas linhas. essa cronica me fez lembrar das poesias de Walt Whitman. Incrivelll...
ResponderExcluirmuita luz
Deus lhe abençoe.
Obrigada pelas palavras carinhosas, Edy meu xodó. Um beijão.
ResponderExcluirFicou bom, bonito. A natureza não envelhece mas o homem a destroi. E ela é bela mesmo sendo seca. Interessante essa comparação das pessoas com a natureza, dias as pessoas tão renovadas, noutros estão como pedregulhos e tem dias que tão secos como o sertão, então vem uma chuva de alegrias e tudo fica novo e as pessoas voltam a sorrir e se feliz.
ResponderExcluirMaria arrasaste.Faz é dias que me pergunto:Maria é adolescente,jovem,adulta? A foto parece de uma adolescente bem feliz.
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